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Demência mística

Há uma entidade nosológica que nunca vi abordada em tratados de psiquiatria nem ser objecto de comunicações científicas – a demência mística.

Não me refiro às bruxas que a santa Inquisição queimava após confessarem as relações sexuais com o diabo. Os métodos cristãos de investigação podem ter levado, nalguns casos, a falsas confissões enquanto, sob as sotainas, os pios inquisidores entravam em êxtase com divinos orgasmos.

Compreendo o gozo espiritual (não podia ser outro) de Teresinha de Ávila quando Jesus a visitava na cela, entusiasmo que a Irmã Lúcia não sentiu em Tui, por ser mais contida e ter visões mais pudicas.

Se os crentes têm visões que lhes pode valer a canonização, na sequência da clausura, dos jejuns ou de cogumelos, já não se percebe que a mesma síndrome afecte os clérigos.

É ocioso recordar as lucubrações sadomasoquistas dos clérigos medievais da ICAR, mas talvez valha a pena transcrever dois parágrafos do Jornal de Notícias, de hoje, a respeito de um membro do clero islâmico:

«O clérigo egípcio Ezzat Attiya, responsável pelo Departamento dos Ensinamentos do Profeta da Universidade de Al-Azhar (escreve a AP que se trata da a mais prestigiada universidade sunita), emitiu uma “fatwa” decretando que as mulheres que trabalham devem dar de mamar aos colegas de emprego.
A razão de Attiya é limpidamente simples: assim criar-se-ão laços maternais-filiais nos locais de trabalho e deixará de haver tentações eróticas entre colegas já que o tabu do incesto, Alá seja louvado, não permitirá tal coisa. Leio e, como diz Bataille, rio-me porque tenho medo».

Pessoalmente, nada tenho contra. O pior é se têm leite.