Teoria dos elos perdidos
O criacionismo é ignóbil, e uma das suas mais ginasticadas deambulações é a dos elos perdidos. Da história ficcional infantil de escrita entediante, rabiscada em surrealismos de tasco apinhado em vinhos reles e pataniscas de 15 dias, chega-nos a visão criacionista, vista e revista em cerca de 50 páginas. Ou Génesis.
Consoante o prisma cristão de debate, essas poucas páginas poderão tomar os contornos sólidos do titânio que entra e sai de atmosferas sem danos, ou aquando necessário transformar-se-ão em plasticina extremamente moldável, na qual são retiradas metáforas de cantos e recantos, quem sabe até mesmo das numerações de página. Pelos mesmos processos podemos pescar semelhantes metáforas numa lista telefónica como tainhas no Douro.
Os factos encaixam na teoria Evolucionista tal qual luvas de látex nas mãos, ou profiláticos no pénis, deixando a correspondência contrária às teses criacionistas, que se ambientam aos factos tal qual os peixes se ambientam facilmente ao Deserto do Saara.
Se de factos de evidência incontornável, tal se afiguram os fósseis como exemplo, se chega posteriormente a conclusões evolucionistas, já em campos de criacionismos cristãos se parte dos factos infactuais da conclusão criacionista para se posteriormente se chegar à conclusão criacionista. Se deus sabe ler por linhas tortas, já o mesmo não se passa por linhas direitas.
Se deus a si não chama os créditos, serão os seus seguidores a tentar retirar os créditos onde estes foram reunidos, tal como se puxarmos para o pescoço um cobertor curto destaparemos os pés. Assim se comportam tais blasfemos da evolução, inventando e reinventando argumentos de sachola às costas pronta para escavacar os titânios das realidades da Natureza.
Tentando incutir uma simbiose entre racionalidade e as cerca de 50 páginas de ficção entediante infantil infectada pelo bolor das lacunas imaginativas de deus, brota uma teoria dos finitos infinitos ou infinitos finitos consoante o ponto de vista. Teoria dos elos perdidos neste caso.
Fossilizações acontecem por acaso, não propositadamente. Nenhum dinossauro pensou em defecar perante um qualquer contexto geológico propício à fossilização, para que um dia um qualquer ateu o encontrasse e corresse para a paróquia mais próxima entoando bem alto “Este coprólito fóssil prova que o criacionismo é um coprólito intelectual!”. O exemplo referido também se coaduna com pegadas por exemplo, se bem que não produz trocadilhos relevantes.
Elos perdidos existem sempre e sempre existirão, neste ou noutro qualquer contexto. Entre dois pontos diferentes podemos definir um número infinito de pontos intermédios. Ao ser descoberto um fóssil a que chamaremos 1, que evolui para outro também descoberto denominado 2, virão os criacionistas com a teoria do elo perdido, pois não existe um fóssil 1,5. Caso um dia seja descoberto um fóssil denominado 1,5 virão novamente os criacionistas ainda com mais argumentos, pois desta vez conseguem ver 2 elos perdidos, o 1,25 e o 1,75. A situação pode prolongar-se ad nauseam.
Aplicando este raciocínio ao quotidiano de devotos religiosos cristãos poderemos indagar se estes alguma vez poderão sair de casa para ir até uma paróquia, visto que entre o ponto de partida e o de chegada existem infinitos pontos intermédios de passagem.
Podemos também encaixar este raciocínio em qualquer filme, e assim concluir que eles representam nada e coisa nenhuma. Como um filme é apenas uma sequência de imagens, poderemos pegar num segundo de um filme com 27 frames por segundo a título de exemplo, e atribuir-lhe os dotes do inifinto ad nauseam. Se entre o frame 1 e o frame 2 não existe um frame 1,5, então existe um elo perdido no filme. Se aplicarmos a teoria do meio frame a um filme de 90 minutos a 27 frames por segundo extraímos cerca de 145800 elos perdidos.
Elos perdidos ad nauseam não faltam. Tal não acontece com a racionalidade.
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