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Dia: 20 de Abril, 2007

20 de Abril, 2007 jvasco

Ateísmo na Blogosfera

  1. «Mas da filosofia à ciência o processo é contínuo, e já foi repetido em muitos domínios. «De que é feita a matéria?» era uma pergunta filosófica até se compreender o suficiente para formular hipóteses testáveis e, eventualmente, um modelo científico bem fundamentado. Há séculos que andamos nisto, avançando mais nuns domínios que noutros. E cada avanço levanta mais perguntas que é preciso compreender, e, uma vez compreendidas, tentar responder. Perguntas filosóficas que se transformam em perguntas científicas que dão respostas científicas e levantam novas perguntas filosóficas.

    Nem a filosofia pode vencer a ciência nem a ciência vencer a filosofia. São ambas parte do mesmo processo de compreensão. Mas o [leitor] tem razão em se preocupar com a religião, que sempre foi a roda quadrada desta carroça. A religião assume que já sabe as respostas e nem sequer gosta de perguntas. Enquanto as outras se ajudavam e avançavam a religião ficou na mesma, cada vez mais isolada da realidade.»Ciência, Filosofia e Religião.», no Que Treta!)

  2. «Na realidade, Tyson aponta que não há nada em comum entre religião e ciência e que a inspecção da História revela uma guerra entre ambas como explicado no livro que já referi, «A History of the Warfare of Science with Theology in Christendom», do historiador e ex-presidente da Universidade de Cornell (uma das mais prestigiadas universidades do mundo, que incluiu Carl Sagan no seu corpo docente) Andrew D. White.

    Para além disso, a ciência assenta em verificação experimental e a religião assenta na fé, que por definição dispensa qualquer tipo de comprovação, pelo que as duas abordagens ao conhecimento são completamente irreconciliáveis. E considerando que ao longo de boa parte da História da humanidade se tentou arduamente aproximar ambas parece pouco provável que a conciliação alguma vez aconteça» («O perímetro da ignorância», no De Rerum Natura)

  3. «John Edward é, sem dúvida, o mais famoso «psíquico» da actualidade.
    Até a TV Cabo (se bem me lembro no «People & Arts»), já se rendeu aos «encantos» deste burlão, que se tornou multi-milionário a fazer crer às pessoas que comunica com o «mundo dos mortos» e que lhes transmite mensagens de familiares e amigos que estão «do outro lado».
    E que não hesita em explorar despudoradamente os sentimentos das pessoas para lograr os seus únicos intentos: enriquecer como um nababo.»
    O Sucesso dos Aldrabões», no Random Precision)
20 de Abril, 2007 Ricardo Alves

Peña-Ruiz: «Cinco questões a Sarkozy»

Tenho destacado abundantemente, nos dois blogues em que escrevo, textos de Henri Peña-Ruiz, o filósofo francês que melhor tem explanado o conceito moderno de laicidade. Recentemente, destaquei um texto de questões a Nicolas Sarkozy, no contexto da eleição presidencial francesa. A Associação República e Laicidade apresenta agora uma tradução desse texto, que merece leitura atenta.
  1. «Primeira pergunta. Os humanistas ateus devem usufruir dos mesmos direitos que os crentes? No seu livro sobre a República e as religiões, reconhece um privilégio à opção religiosa. De acordo consigo, fora desta, não seria possível conferir à conduta da existência as referências de sentido de que ela necessita. Sartre, o ateu, e Camus, o agnóstico, deviam, portanto, ter-se perdido perante as dificuldades da vida… E Bertrand Russel, que escreveu “porque não sou cristão”, devia encontrar-se desarmado face às questões éticas. Não percebe que quem não acredita no céu se pode sentir ofendido pela sua preferência? Honoré d’Estienne d’Orves, católico resistente, mereceria mais consideração do que Gabriel Perecer, ateu resistente? Ambos tombaram vítimas das balas nazis. Conhece a frase do poeta: “aquele que acreditava no céu, aquele que não [acreditava], que importa ao nome dado à clareza dos seus passos se um ia à igreja e o outro lá roubasse” (Louis Aragon, «La Rose et le Réséda»)
  2. Segunda pergunta. Que tipo de igualdade se pretende promover? Diz [Nicolas Sarkozy] pretender a igualdade entre as religiões e, para tal, encara a possibilidade de construir, com fundos públicos, lugares de culto, nomeadamente para permitir aos cidadãos de confissão muçulmana compensar o défice que teriam nessa matéria relativamente aos católicos que usufruem gratuitamente das igrejas construídas antes de 1905, ainda que esse direito de uso resulte de «afectação especial» e esteja limitado aos momentos da prática religiosa. Não pede, contudo, idêntico financiamento para edifícios destinados ao livre pensamento ou para templos maçónicos. Será que se assume partidário da discriminação entre os cidadãos de acordo com as opções espirituais em que eles se reconhecem? Para si, a igualdade republicana deveria reduzir-se à igualdade entre os diversos crentes, com exclusão dos humanistas ateus ou agnósticos? (…) Desde 1 de Janeiro de 1906 que a construção de novos locais de culto está unicamente a cargo dos fiéis, qualquer que seja a religião. É essa a regra, e os frequentes desvios que a ridicularizam não podem fazer jurisprudência, tal como o desrespeito pelos sinais dos semáforos não pode constituir motivo para a sua abolição.
  3. Terceira pergunta. Que prioridade para os poderes públicos? O relatório Machelon, que colhe a sua simpatia [de Nicolas Sarkozy], recorre ao conceito de liberdade religiosa, para permitir resvalar da garantia do «livre exercício dos cultos», garantido pelo primeiro artigo da lei, para o financiamento supostamente necessário dos cultos. Belo jogo de palavras e verdadeiro golpe de mão que pode bem enganar. Em República, só o interesse geral, comum a todos, visando bens e necessidades de alcance universal, merece financiamento público. Ora a religião não constitui um serviço público, tal como o são a instrução, a cultura ou a saúde. Na verdade, ela respeita unicamente aos seus crentes, isto é, a uma parte dos cidadãos. Os poderes públicos, cujos fundos resultam de impostos pagos tanto por ateus como por crentes, não devem, pois, financiar os cultos, tal como não devem financiar a divulgação do ateísmo. Está de acordo? (…)
  4. Quarta questão. Que concepção de luta contra o fanatismo? Afirma [Nicolas Sarkozy] querer evitar as intervenções estrangeiras, nomeadamente os financiamentos [ao culto religioso] vindos de países que pouco respeitam os valores republicanos e democráticos. E sustenta que pagando se poderá ter tudo sob melhor controlo. Falsa evidência. Pois que relação jurídica [pode existir] entre o financiamento e o direito de observar os objectivos dos responsáveis religiosos nos locais de culto? Ela só pode existir através do restabelecimento de um processo concordatário, ou seja anti-laico. Napoleão fez a Concordata de 1801 no compromisso de um financiamento público dos cultos cujas autoridades religiosas demonstrassem fidelidade ao seu poder. O catecismo imperial de 1807 radicalizou este sistema bastante humilhante para os crentes já que, afinal, os compra. Numa república laica, não pode existir fidelidade resultante de privilégio. Quer-se impor uma ortodoxia às religiões? (…)
  5. Quinta pergunta. O que sobra do laicismo e da República se se restabelecer um financiamento discriminatório? A República não é uma justaposição de comunidades particulares. Em França, não existem cinco milhões de «muçulmanos» mas cinco milhões de pessoas oriundas da imigração magrebina ou turca, muito diferentes nas suas opções espirituais. Um inquérito recentemente publicado pelo Le Monde, precisou que só uma pequena minoria desta população frequenta a mesquita, a maior parte faz da religião um assunto privado, só se referem ao Islão por uma espécie de solidariedade imaginária. Assim sendo, deve a República renunciar ao laicismo para satisfazer esta minoria ou concentrar os fundos públicos e redistribui-los pelos serviços públicos, pela gratuitidade dos cuidados de saúde, pela habitação social, ou pela luta contra o insucesso escolar, que abrangem, incontestavelmente, todos os homens, sem distinção de nacionalidade ou de opções espirituais? Não constitui dever dos homens políticos explicar que é pelo assegurar de iniciativas de serviço público de qualidade, igualmente proveitosas para crentes e ateus, e pela luta contra todo o tipo de discriminação que o Estado facilita, a uns e a outros, o financiamento voluntário das suas opções de convicção? (…)»

(Ler na íntegra.)

[Esquerda Republicana/Diário Ateísta]

20 de Abril, 2007 Hacked By ./Localc0de-07

O prepúcio de Cristo e os Anéis de Saturno

Durante quase dois mil anos o cristianismo se debateu com a demência das ideias do prepúcio sagrado de Jesus Cristo. Imensas mentes desgastaram e fizeram desgastar tempo e intelecto com uma loucura apenas equiparável a outras demências religiosas dentro dos mesmos campos. Fiéis seguidores rastejavam para pagar indulgências, e obtinham a esquizofrenia total da adoração do prepúcio. Peregrinações eram feitas (com os bolsos a tilintar os sons de moedas que poderiam antes matar a fome) para prestar louvores à relíquia cristã.

Uma mulher com distúrbios mentais brutais conseguiu o prodígio de se ver santificada após uma vida de loucuras extremas, das quais se destacaram as actividades sexuais com o falecido Jesus Cristo, e o ainda mais ridículo casamento com o defunto comprovado pela oferta do profeta. O seu prepúcio. A Santa Catarina de Siena batia recordes de ridicularidade, e a Igreja Católica desejou que a sua demência continuasse a ser emanada nos seus patamares mais elevados. A cabeça da santa pode ser vista, assim como um dedo e outros pedaços de corpo espalhados por várias igrejas. Nada melhor que um passeio familiar até à igreja e contemplar um crânio. O necro-catolicismo vai ainda mais longe, e promove procissões com a cabeça da pobre coitada, eternamente ligada à demência religiosa.

Mais situações poderiam vir a ser cómicas caso não fossem interpretadas pelos religiosos como reais. Várias poderiam ser enumeradas, mas atribuirei particular relevância aos desvarios lunáticos do teólogo Leo Allatius, que dedicou uma extensa obra a este assunto de importância tão exacerbada denominada de “De Praeputio Domini Nostri Jesu Christi Diatriba”, “Discussão Sobre o Prepúcio de Nosso Senhor Jesus Cristo”. Segundo o teólogo o prepúcio teria ascendido aos céus na mesma altura em que Jesus teria ascendido, também ele em rumo aos céus. Até aqui nota-se lunatismo, mas nada de saliente em relação ao que já foi exposto. O interessante do pensamento deste teólogo consiste no facto de o prepúcio do profeta ter ascendido aos céus, viajado até Saturno, transformando-se nos anéis de Saturno, que haviam sido recentemente descobertos.

Como normal nos meandros católicos de defecação ininterrupta, esta demência e outras foram aclamadas euforicamente pelos cristãos, sedentos de respostas para o tão importante prepúcio. Obviamente que não era de esperar que o teólogo considerasse os anéis de Saturno uma mistura de gelo, poeiras e material rochoso com centenas de milhares de quilómetros de diâmetro, não ultrapassando 1,5 km de espessura. Mas a atribuição de repostas onde elas não podem ser encontradas por falta de meios é um apanágio de qualquer religião.

Para melhor situar o lunatismo católico nada melhor que uma breve comparação de pontos antagónicos. A demência católica comparada com a genialidade de Giordano Bruno. Genialidade e catolicismo sempre foram factores mutuamente exclusivos. Bruno defendia o heliocentrismo, defendia a ideia de um universo infinito povoado por milhares de sistemas solares. Desenvolveu um livre pensamento incomum para os tempos de ouro do catolicismo e consequentemente de trevas para a Humanidade. Obviamente que a resposta católica foi de condenação da genialidade, atirando com o pensador para a prisão e torturando-o das normais formas escabrosas inquisitoriais. Não contentes acabaram por queimar vivo o génio, em 1600, altura em que Leo Allatius, o demente clerical que ainda não tinha a ideia de lançar um livro sobre um prepúcio tinha apenas catorze anos. Bastantes anos mais tarde veio a teorização dos anéis de Saturno compostos do prepúcio de um profeta e consequente esquizofrenia religiosa.

Também publicado em Ateismos.net e LiVerdades