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Bispos evitam abortos – tomam a pílula

Andava a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) dedicada à oração e aos negócios, sem se dar conta de que milhares de mulheres recorriam ao aborto clandestino, com sequelas irreversíveis, risco de vida e perseguições policiais.

Deviam estar a treinar hóquei em campo com os báculos e a jogar ao anel de ametista com as mitras, enquanto a operária com medo do despedimento interrompia a gravidez com uma agulha de renda, uma adolescente filha de pai católico entrava em pânico e se entregava à curiosa que lhe perfurava o útero ou uma mãe desempregada empenhava o cordão que herdara da avó para evitar mais uma criança que não poderia alimentar.

Os bispos, a quem a idade e o múnus tornou castos, têm pela sexualidade um sentimento de culpa e aversão que o medo e o recalcamento refinaram.

Vêm agora, quais virgens que desconhecem o mundo, dar sentenças sobre a forma de evitar o recurso ao aborto. Não desejam mais do que os ateus que essa praga possa ser eliminada, que os filhos desejados possam nascer, que o sexo seguro possa ter lugar.

Se os bispos soubessem o que é amar, se tivessem um corpo para viajar e uma boca húmida para beijar, se soubessem como é bom amar e ser amado, sentir a loucura de um desejo satisfeito, apaziguar a ansiedade na sofreguidão do amor, certamente não seriam os intolerantes misóginos, empregados de um Deus que obriga os crentes a renunciar à felicidade e os prefere de joelhos, ciliciados e embrutecidos com as orações.