Loading

Dia: 21 de Janeiro, 2007

21 de Janeiro, 2007 Carlos Esperança

Deus, lei e família

Quando um militar, de baixa patente, habituado à disciplina e condicionado pela obediência, afronta um tribunal;

Quando um «pai» põe em risco a profissão e a subsistência, por amor à filha que não fez;

Quando um homem, por amor a uma criança, arrosta com seis anos de prisão e arrasta na aventura a sua mulher;

Esse homem está cego. Ou a lei. Ou a sua aplicação. Algo é um absurdo que viola a sensibilidade e desafia a inteligência.

Quando um indivíduo descobre acidentalmente que o teste de DNA, que não pediu, lhe adjudica o espermatozóide que deu origem a uma criança que desconhece e a reclama com o amor que nasce de uma análise laboratorial que lhe é comunicada,

Manda a prudência que, antes, se averigúem os sentimentos de uma criança de cinco anos (por quem saiba fazê-lo).

Parecem postergados os interesses e a vontade própria de uma menina que aguarda um drama que ainda não sonha e um destino que pode terminar em tragédia.

É grave que ao juízo dos tribunais se sobreponha o julgamento da rua, mas é igualmente grave que os tribunais percam a sensibilidade, sentimento que, salvo o devido respeito, parece ter estado ausente da, aliás, douta sentença.

E a Igreja católica, tão vigorosa na defesa dos embriões, não tem um padre com opinião neste caso. Os bispos andam a organizar comícios dos movimentos pró prisão e o Opus Dei a recolher fundos para a publicidade.

Quem pagará a novela da SIC para fazer propaganda subliminar para que julgamentos como os da Maia, Aveiro, Setúbal e Lisboa se repitam e se persigam mulheres pobres e desesperadas?!

21 de Janeiro, 2007 Palmira Silva

Sim no referendo!

Um post indispensável, abordando um tema caro aos pró-penalização – que, a crer nos cartazes, se preocupam mais com dinheiro que com valores -, num blog que deve ser igualmente leitura indispensável: SIM no referendo.

Um ponto de encontro de individualidades da blogoesfera abrangendo todo o espectro político nacional, que têm em comum querer pôr Portugal no mapa das nações civilizadas, democráticas e regidas pela declaração universal dos direitos do Homem (capitalizado).

Porque o que está em causa no referendo de 11 de Fevereito próximo é uma questão de civilização: reconhecer às portuguesas, finalmente, algo que está consagrado há quasi 60 anos, a igualdade de género e a liberdade de consciência!

tag

21 de Janeiro, 2007 Palmira Silva

De questões de consciência, boutades e embriões – II

Perto da boutade de Gentil Martins empalidecem as outras das excomunhões, dos avisos aos crentes de que o voto SIM implica que «não podem casar, baptizar-se e nem poderão ter um funeral religioso», das Marias que choram, das cruzadas de terços e até do dislate dos telemóveis do nosso cavaleiro da pérola redonda e opinador de segunda, JC das Neves!

Mas em relação à opinação deste último, na realidade uma sociedade tecnológica, moderna, é incompatível com uma sociedade que criminaliza a liberdade de consciência de metade dos seus membros! E é uma sociedade que nos lembra que o que nos distingue dos restantes animais é exactamente a capacidade do Homem em alterar o curso da Natureza, em modificar o Futuro (valioso ou não) pelas suas acções!

O que distingue o Homem dos restantes animais é a capacidade de alterar potencialidades «naturais» com a sua acção. Ninguém protesta por as acções contra natura do Homem evitarem que se morra de uma simples infecção ou permitirem a utilização de telemóveis!

Porque razão os pró-penalização se recusam em capitalizar Homem e pretendem manter a mulher, contra sua vontade, agrilhoada às leis da Natureza? Porque pretendem manter a mulher presa a uma animalidade «natural» em vez de a assumirem como integrante da humanidade, fazedora consciente de futuros improváveis?

Ninguém nega que se deixado entregue à Natureza, sem interferências humanas, a probabilidade de um embrião se desenvolver numa pessoa é elevada. Assim como é elevada a probabilidade de o mesmo acontecer se se deixar à Natureza o resultado de uma sexualidade «natural», isto é, sem contraceptivos nem abstinências contra natura.

O desenvolvimento de uma nova pessoa depende de acções humanas, há já muitos anos que não segue o curso da Natureza. E essa pessoa está tanto em potencial num óvulo como num embrião! A vontade e acção humanas determinam se essa potencialidade irá evoluir para uma pessoa.

Mas algo em potencial não é esse algo, como este fantástico comentário do Lino exemplifica: «Mas chega dizer-lhe que todos somos potenciais cadáveres, mas nenhum de nós gostava de ser cremado antes de morrer.»

tag