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Dia: 27 de Outubro, 2006

27 de Outubro, 2006 Carlos Esperança

A ignorância de Deus

Deus não está morto, arrasta-se em lenta e dolorosa agonia, que os padres disfarçam com missas e orações, numa vida vegetativa que serve os interesses dos parasitas.

Um dia acabam-lhe com o Inferno – fonte tradicional de rendimento, quase tão eficaz para a devoção como os métodos do Santo Ofício. Depois eliminam-lhe o Purgatório que tantas missas e orações rendeu. Agora até o Limbo foi à praça e, não tendo havido licitações, foi abatido ao activo para fugir ao Imposto Municipal sobre Imóveis.

Resta o Paraíso, desacreditado e triste, à espera de supersticiosos e desesperados, onde se encontram santos pouco recomendáveis e a fauna divina com ar soturno.

Deus, no seu ódio ao progresso e à modernidade, deixou escapar os subsídios da Comunidade Europeia para fazer uma reciclagem e aprender línguas, para se adaptar aos novos tempos e à democracia.

É por isso que deixou de ouvir as preces dos créus, balbuciadas nas línguas autóctones apesar de Bush estar convencido de que o americano é a língua sagrada importada de Londres onde julga que Cristo fez estudos universitários.

O Sapatinhos Vermelhos, enquanto tirava as medidas para um novo vestidinho de seda e experimentava um chapéu de museu, pensou em regressar ao latim para ver se o patrão percebe os pedidos dos padres e recupera o prestígio da sua Igreja.

O Deus do Islão, mais primário que o dos cristãos, só percebe árabe mas há-de julgar-se um intelectual, comparado com o seu Profeta que não conseguiu aprender a ler e anda feliz com multidões embrutecidas pelos mullahs capazes de todas as torpezas.

Enquanto o Deus do Papa se encontra ligado à máquina, com respiração assistida, B16 regressa ao latim para lhe levar algum ânimo. Para isso tem de se submeter à exigência da Sociedade do Santo Pio X (SSPX), um grupo com sede na Suíça fundado pelo falecido arcebispo Marcel Lefebvre, de pendor francamente fascista e anti-semita.

Mas isso não é problema para B 16. Apesar de excomungado já o recebeu em euforia e mantém uma relação tão cordial como a que um boato atribui à de Deus com os anjos.

Em breve teremos de volta o latim e o Sol a girar à volta da Terra. Depois, as almas voltam ao redil do Vaticano e os beatos lambem as mãos dos padres e extasiam-se à passagem de Sua Santidade.

27 de Outubro, 2006 Palmira Silva

Back to the future?


Michael J. Fox, que sofre da doença de Parkinson, gravou este vídeo em que apela ao voto nos candidatos às eleições de Novembro próximo que apoiem a investigação em células estaminais. Para além de Michael, outras celebridades, como Sheryl Crow, que sobreviveu a um cancro, dão a cara em apoio desta área de investigação.

Michael J. Fox, diagnosticado com Parkinson em 1991, fundou a Michael J. Fox Foundation for Parkinson’s Research, uma fundação devotada a financiar investigação sobre a doença que, como muitas outras doenças neurodegenerativas, é actualmente incurável.

A investigação em células estaminais totipotentes – as células estaminais adultas, multipotentes ou seja que apenas se podem diferenciar dentro da sua linhagem celular, são inúteis neste tipo de doença – é a maior esperança para uma futura cura para doentes de Parkinson e de muitas outras doenças, não apenas neurodegenerativas, actualmente incuráveis.

Os opositores da investigação em células estaminais totipotentes – não apenas as embrionárias mas todas as células adultas manipuladas para se tornarem totipotentes – são aqueles que se auto denominam pró-vida e ululam contra o inadmissível «assassínio» de «vida por nascer», já que, como afirmou monsenhor Elio Sgreccia, que preside à Academia Pontifícia para a Vida, uma célula totipotente, independentemente da forma como foi obtida, que pode evoluir para um ser humano totalmente desenvolvido, deve ser considerada, tal como um embrião ou um zigoto, um ser humano de plenos direitos.

De facto, são os fundamentalistas cristãos, com a Igreja de Roma a liderar as hostes ululantes de fanáticos, os únicos oponentes (muito vocais e bem organizados, aliás como nas campanhas contra o aborto) da investigação em células estaminais totipotentes, que as recentes sondagens indicam merecer o apoio da maioria dos americanos.

Recordo que o defensor intransigente da vida (não nascida, claro) G. W. Bush usou recentemente pela primeira vez o veto presidencial para rejeitar legislação aprovada no Congresso norte-americano que expandia as restritas leis que governam o financiamento da investigação em células estaminais embrionárias. Restrições impostas pelo próprio paladino de óvulos, espermatozóides e células totipotentes em 2001 e que limitam a investigação nesta área a 71 linhas de células. Assim, a investigação em células estaminais é um dos temas «quentes» nas próximas eleições que os analistas políticos prevêm resultar no fim da hegemonia republicana no Congresso.

Tão quente e eventualmente tão decisivo que Rush Limbaugh, um dos mais conhecidos homens da rádio americana, um conservador tão pró-vida não nascida que mimoseia as mulheres pró-escolha com o epíteto feminazis, afirmou no seu programa de rádio que Michael J. Fox estava a fingir os tremores e restantes sintomas da doença de forma a atrair as simpatias (e os votos) dos espectadores.

A evidente desonestidade intelectual do fundamentalista cristão, tão evidente que mesmo a CNN fez uma peça sobre o tema, foi violentamente denunciada pelos peritos em Parkinson. Limbaugh, num inédito na sua carreira de maledicência contra os «infiéis» democratas e seus apoiantes, pediu (meia)desculpa pelas mentiras óbvias que debitou.

Mas Limbaugh afirmou que «Michael J. Fox estava a permitir a exploração da sua doença» em favor dos democratas e da investigação «sacrílega» e imoral em células totipotentes. Claro que para o teocrata mostrar simplesmente os efeitos desta doença e apelar a que se permita a investigação mais promissora para uma cura é inadmissível. Mentir deliberadamente, usar imagens falsas e manipuladas de nados-mortos ou fetos do 3º trimestre abortados por razões médicas como sendo o resultado trivial de um aborto «pró-escolha» é perfeitamente legítimo…

Sobre o acérrimo defensor da vida não-nascida (apenas, como Keith Olberman mais uma vez denuncia magistralmente) uma das críticas mais divertidas à sua omnipresente hipocrisia foi feita por Robin Williams a propósito de um frasco de Viagra encontrado na bagagem de Limbaugh quando este regressava de um país conhecido como um paraíso do turismo sexual

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