Loading

A Razão e a Fé II: A Igreja e a Razão (cont.)

Logo à primeira oportunidade de dar liberdade ao pensamento, a religião instituída sofreu um enorme abalo. A racionalidade tinha trazido maus frutos à fé instituída, por duas razões. Por um lado porque existia agora não uma fé mas várias. A luta que assim se formou não se limitou ao belicismo mas também ao debate racional enquanto exercício da crítica. Por outro lado, a dinâmica de poder polarizou-se o que obviamente originou conflitos armados mas agora uma nova forma de interacção era valorizada – a diplomacia que foi, no fundo, a marca humanista nos negócios internacionais.

Uma das mais importantes ferramentas criadas na tentativa de manutenção da antiga ordem foi o Tribunal do Santo Ofício, também conhecido como a Inquisição, fortalecida em 1542 por Paulo III a partir de órgãos da Igreja já existentes. A perseguição daquilo que era considerado heresia, recorrendo a confissões sob tortura, julgamentos e execuções públicas, a par da prática da censura, foi a tentativa de conservar a influência da Igreja e o seu sistema de pensamento.
Durante muito tempo, o sistema de valores da Europa manteve-se constante. Até ao séc. XIV vigoraram monarquias em regime feudal. Desde aí ao Renascimento começaram a aparecer os primeiros estados-nação, onde a economia predominantemente agrícola deu algum lugar a uma economia baseada no dinheiro e nas trocas comerciais. Em meados do séc. XVII, o sistema de organização das monarquias era considerado obsoleto, injusto e irracional. As pessoas estavam fartas dos abusos de monarcas absolutos, da intolerância religiosa e da falta de liberdade generalizada. Havia pão para uns e não para outros e a injustiça do sistema aristocrático era motivo de ressentimentos.

Os valores de igualdade do Iluminismo que então se espalhavam pelo velho continente ganharam aderência. A ideia de que a racionalidade deve guiar o homem na sua busca da felicidade, os valores do Individualismo como auto-determinação, os princípios de igualdade entre os homens foram as linhas que levaram à Revolução Francesa e à Revolução Americana.

Também publicado no Banqueiro Anarquista.