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Dia: 11 de Setembro, 2006

11 de Setembro, 2006 Carlos Esperança

João Paulo II em Notre Dame

As atrocidades perpetradas pelo clero devem-se mais ao poder económico e influência política de que dispõem do que à convicção. O medo e a ignorância condicionam a fé mas o estado de precisão e o monopólio da assistência nas mãos dos sacerdotes levam à subserviência e à oração.

Mas tal como o bispo da história a quem um barbeiro herege escanhoava os queixos, sentindo a navalha no pescoço, respondeu à pergunta dizendo que acreditava muito pouco em Deus, também as vítimas que dependem do poder das Igrejas reagem do mesmo modo reiterando, contudo, a inabalável fé que os protege.

No mundo islâmico a miséria e o desespero a que se junta o medo e a coação social fazem fanáticos os crentes e transformam em beatos os cidadãos.

Nos países democráticos, onde a secularização era vacina contra os desmandos do clero e o proselitismo cristão verifica-se um mimetismo que modifica gente de sãos princípios em beatos que debitam a bíblia, se empanturram com hóstias, persignam, genuflectem e rastejam por uma promessa de aluguer de uma assoalhada no Paraíso.

Governantes venais dão nomes da clerricanalha às praças e ruas cuja toponímia deviam defender dos embusteiros de Deus e fabricantes de milagres. O pudor até em França se perdeu já com autarcas que trocam o pudor republicano e a pedagogia da laicidade por um punhado de votos e o nome de um Papa pouco recomendável para um largo público.

Foi assim que o nome de João Paulo II infectou um largo, em frente à igreja de Notre Dame, em Paris, com a laicidade a ser ultrajada.

11 de Setembro, 2006 Palmira Silva

O caminho para o 11 de Setembro

A RTP1 começou ontem a transmitir o docudrama que dá título ao post, supostamente baseado no relatório da comissão do 11 de Setembro, na realidade uma ficção dramática que só pode ser entendida se nos lembrarmos que em Novembro há eleições para o Congresso norte-americano e que todas as previsões apontam uma derrota estrondosa para o partido teocrata republicano. E se soubermos que a ABC concordou em interromper a transmisão de hoje da 2ª parte da minisérie para um discurso de G.W. Bush…

Assim, a versão original do docudrama, escrita pelo conservador Cyrus Nowrasteh, depositava toda a culpa do 11 de Setembro em Bill Clinton. A versão original foi visionada dia 23 de Agosto no National Press Club em Washington e desde então tem agitado os media norte-americanos.

Dois membros da comissão do 11 de Setembro, Richard Ben-Veniste e Jamie S. Gorelick, criticaram veementemente a minisérie. Segundo o primeiro:

«Existem desvios significativos em relação ao nosso relatório. Eu perguntei porquê a ABC ficcionou acontecimentos que nós descrevemos com imenso cuidado. Não recebemos respostas satisfatórias» .

Também Richard Clarke, o perito em contra-terrorismo de Bush pai, Clinton e G.W.Bush afirma existirem cenas completamente inventadas no filme, nomeadamente no que respeita à actuação da administração Clinton.

Em resumo, se virem hoje a segunda parte do documentário não esqueçam que é uma ficção dramática cujo objectivo é propaganda política para a teocracia de G.W. Bush, em sérios riscos de perder a maioria no Congresso nas eleições de 7 de Novembro, e cuja semelhança com a realidade é mera coincidência.

11 de Setembro, 2006 Ricardo Alves

A religião não foi culpada?

Os atentados de 11 de Setembro de 2001 não teriam existido num mundo sem religião. Sem a crença na vida para além da morte, aqueles terroristas não teriam sido convencidos a suicidar-se. Sem acreditar que estavam a contribuir para a glória de «Deus», não teriam aceitado, de consciência aparentemente tranquila, massacrar outras pessoas. Se não fossem muçulmanos, não teriam odiado homens e mulheres que só diferiam deles por serem cristãos ou judeus.

Tudo isto deveria ser óbvio, porque a vantagem que a religião confere às sociedades sempre foi a coragem e a imunidade moral, obscurecendo o bom senso e a própria realidade. Só a crença no além e a autoridade ética do clero têm permitido, ao longo dos séculos, que os soldados marchem para a guerra em ordem e aparentemente sem medo.

A Al-Qaeda insiste em recordar-nos que nos devemos converter ou morrer. É irracional? Sim: a religião é irracional.