Loading

Dia: 18 de Julho, 2006

18 de Julho, 2006 Carlos Esperança

Guerra civil de Espanha

Hoje, 18 de Julho, completam-se 70 anos sobre o golpe de Estado que ensanguentou a Espanha e que, de algum modo, iniciou a carnificina que o nazi/fascismo prolongaria até 8 de Maio de 1945.

Na sarjeta da história jazem José Sanjurjo, Emilio Mola y Francisco Franco, os generais que derrubaram o Governo constitucional da Segunda República, de que era presidente Manuel Azaña e primeiro-ministro Santiago Casares Quiroga.

Já no dia anterior tinha havido tentativas de sublevação mas foi no final do dia 18 que se iniciou a guerra civil que havia de deixar um rasto de sangue, com centenas de milhares de assassínios e incontáveis feridos, entre espanhóis.

O requinte dos fuzilamentos nos campos de touros e o garrote, como instrumento de tortura e morte, foram a imagem de marca da ditadura de Franco que Hitler, Salazar e Mussolini apoiaram. Era o catolicismo jurássico personificado nos quatro ditadores.

É a memória sinistra de Franco, um católico amigo da missa e da hóstia, que, estátua a estátua, tem vindo a ser derrubada em Espanha. É tarde para julgar os cúmplices mas é tempo de divulgar a verdade sobre o mais baixo e inculto dos três generais, que acabou por tomar o poder.

A Espanha de hoje é o paradigma de um país livre e democrático, rico e culto, que sob as cinzas da infâmia soube erguer a tolerância e o diálogo. Sobre os escombros de uma sublevação fascista, apoiada pela Espanha católica e pelo clero rural e beato, há um país novo que se impõe pela sofisticação urbana e cultura democrática.

Zapatero é o ícone desta Espanha moderna que renasceu das cinzas dos horrores e se transformou num Estado de direito, progressista e civilizado, enquanto a Conferência Episcopal sente a nostalgia do ditador Franco que morreu com milhares de hóstias e um milhão de mortos e exilados.

18 de Julho, 2006 Palmira Silva

Choque e espanto

Algo que nunca deixará de me espantar e irritar profundamente é a forma como os prosélitos em nome de Deus mentem descaradamente, especialmente para impor as suas anacrónicas «morais» sexuais.

De facto, ao longo de toda a História do cristianismo a única moral «absoluta» cristã que nunca se alterou é a que estabelece que os fins justificam os meios, e um dos meios banalizados pelo cristianismo é a mentira. O pejorativo maquiavélico – que tal como o pejorativo epicurista reflecte o ataque da Igreja em relação a filosofias «blasfemas», no caso de Maquiavel a sua contestação da autoridade «divina» dos governantes e a sua sugestão inédita da separação entre Estado e Igreja – para ser realista deveria assim ser «católico» ou «cristão»!

Um dos exemplos mais flagrantes é a grosseira mentira propalada pelo cardeal Alfonso Lopez Trujillo, responsável pelo Conselho Pontifical da Família, que afirmou no documentário «Panorama – Sex and the Holy City», verberando que se apoiava em estudos «científicos», que o HIV é suficientemente pequeno para passar através de um preservativo. Se pensarmos que um vulgar balão é cheio com hidrogénio, H2, ou hélio, He, simplesmente as espécies químicas de menores dimensões existentes – ou azoto, oxigénio e dióxido de carbono se for cheio com ar, moléculas igualmente muito pequenas – e que o HIV é muitos milhões de vezes maior, é chocante pensar como a Igreja propala uma mentira tão descarada!

Mentira exponenciada pelas afirmações do prelado de que «os preservativos podem mesmo ser uma das principais razões para a disseminação do HIV/SIDA», ecoando o que a conferência dos bispos da África do Sul, um dos países mais flagelados pela doença, tinha afirmado uns anos antes. Não é assim de estranhar que tenham propalado o boato que os preservativos estão contaminados com o HIV!

Numa religião cuja imagem de marca é a pregação ululante de que as profundas dos Infernos é o castigo inevitável para os homens e mulheres livres que não se submetem aos seus ditames, o medo, instalado pela mentira e pela força, das armas ou das câmaras de tortura e fogueiras, sempre foi a arma favorita dos cristãos para propagar e manter a fé.

Dos Estados Unidos de Bush chega-nos a informação que as tácticas cristãs de intimidação continuam em toda a sua «glória e esplendor».

Mais uma vez, as mentiras descaradas têm a ver com sexo, a obcessão de todos os fanáticos cristãos, que acreditam piamente ser a gravidez a punição divina para esta prática «infame» e pecado a fuga a essa punição. A ciência que tanto execram permite que as mulheres escapem a este castigo divino, pelo que os prosélitos de Deus envidam todos os esforços para combater programas de educação sexual e de informação sobre contraceptivos e simultaneamente ululam que um embrião ou feto sem consciência de si nem do meio ambiente, sem sistema nervoso para sentir dor, é um ser humano de plenos direitos, animado pelo «sopro» divino na união dos gâmetas, pelo que o seu abortamento é um assassínio!

Como a esmagadora maioria das pessoas que dão uso aos neurónios tem dificuldade em ver um ser humano num amontoado de células – que não incluem os ditos, ou conexões entre eles no caso dos fetos – estes prosélitos envidam todos os esforços em transpor para a letra da lei como crime o que consideram «pecado» e quando tal não é possível, mentem para tentar aterrorizar, especialmente adolescentes, a não abortar.

Assim, supostos conselheiros em centros de informação sobre a gravidez, financiados com o dinheiro dos impostos de todos os americanos, mentem às adolescentes a braços com uma gravidez indesejada que os procuram, informando-as falsamente que o aborto aumenta o risco de cancro de mama – um dos centros contactados chega ao cúmulo de dizer que o risco aumenta 80% – infertilidade e doenças mentais.

Como afirmou Henry Waxman, eleito pela Califórnia para a Câmara dos Representantes, que integra a comissão democrata que investigou como são gastos os muitos milhões de dólares de dinheiro federal entregues pelo Compassion Capital Fund a estes centros:

«Centros de aconselhamento à gravidez são quase todos organizações pró-vida cujo objectivo é persuadir [pela mentira] adolescentes e mulheres com gravidezes não desejadas a escolher a maternidade ou a adopção».

Até agora não foi possível contactar a porta-voz do Departmento de Saúde e Serviços Humanos, que financia os centros.