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Dia: 25 de Junho, 2006

25 de Junho, 2006 Palmira Silva

Igreja Católica e Holocausto – Divini Redemptoris

À esquerda: Assim falou Cristo: primeira página da publicação nazi Der Stuermer. O cartoon representa a Juventude Hitleriana em marcha para escorraçar as forças do mal. Na legenda da figura lê-se «Com a vossa fé correrão com o Diabo da terra». À direita «Heil ao Führer de todos os alemães!» primeira página do German Deacons’ Gazette, Abril de 1939, isto é, depois da Krystalnach (noite de Cristal) e mais atrocidades do regime nazi terem sido cometidas.

É didáctico comparar a encíclica «Com ardente inquietação» com a Divini Redemptoris, «sobre o Comunismo ateu», publicada 5 dias depois.

Nesta encíclica não são necessários quaisquer dotes de imaginação (católica) para ler nas palavras do Papa uma condenação vívida «do comunismo, denominado bolchevista e ateu, que se propõe como fim peculiar revolucionar radicalmente a ordem social e subverter os próprios fundamentos da civilização cristã».

Ameaça perante a qual «não podia calar-se nem de facto se calou a Igreja Católica. Não se calou esta Sé Apostólica, que muito bem conhece que tem por missão peculiar defender a verdade, a justiça e todos os bens imortais, que o comunismo despreza e impugna».

No entanto, esta Sé apostólica com os predicados que Pio XI reclama não debitou uma única palavra de condenação quer ao fascismo quer ao nazismo, certamente por não constituirem ameaça para os «bens imortais» defendidos pela Igreja.

De facto, nenhum Papa se deu à maçada de fazer para as ideologias nazi e fascista o que ocupa as muitas páginas desta enciclica: uma exposição dos «princípios do Comunismo ateu, como se manifestam principalmente no Bolchevismo, e os seus métodos de acção» a que se segue a exposição da «Necessidade de Recorrer a Meios de Defesa» para combater o «satânico flagelo bolchevista».

Muito menos sentiu a santa madre igreja a necessidade de lançar em relação ao nazismo «um angustioso apelo às forças morais e espirituais» para o combate ao «mal de natureza espiritual» «fonte» de «que brotam, por uma lógica diabólica, todas as monstruosidades do comunismo», combate para que a mesma Igreja a «bem da humanidade, exige que não se ponham obstáculos à sua actividade».

Isto é, esta encíclica, que denuncia os «erros dos comunistas» já condenados explicitamente pelos seus antecessores, reflecte a «Necessidade de Um Novo Documento Solene» que explique claramente que «O Comunismo é intrinsecamente perverso, e não se pode admitir, seja em que terreno for, qualquer colaboração com ele, da parte de quem queira salvar a Civilização cristã».

Nunca algo remotamente análogo foi dito em relação ao nazismo!

Assim, são muito pertinentes as questões levantadas por Alfredo Pimenta no seu artigo de 1944:

«Pergunto aos homens de boa fé, aos espíritos desapaixonados, às inteligências lúcidas e críticas: há comparação possível entre as duas Encíclicas? (…) Na luta actual, um católico não pode optar, sem perigo de consciência, pela vitória do Reich nazista, contra a Rússia comunista? Na luta actual, não tem o católico o dever de desejar a vitória da Alemanha contra a Rússia?

O Episcopado britânico proclamou, em 29 de Novembro de 1936: ‘um católico não pode ser comunista, e um comunista não pode ser católico’. Quando disse o Pontífice, em sua Encíclica ou fora dela, que um católico não pode ser nacional-socialista, e um nacional-socialista não pode ser católico?

O Episcopado alemão proclamou em 24 de Dezembro de 1936: ‘O Führer e Chanceler Adolfo Hitler viu vir de longe o Bolchevismo, e consagrou-se a afastar este perigo terrível para o nosso povo alemão e para todo o Ocidente. Os bispos alemães entendem que lhes cumpre ajudar nesta o Chefe do Reich alemão com todos os meios sagrados de que dispõem’».

25 de Junho, 2006 Palmira Silva

Igreja Católica e Holocausto: Com ardente inquietação

Eugenio Pacelli (depois Pio XII) assina a Concordata entre a Alemanha nazi e o Vaticano numa cerimónia formal em Roma, realizada em 20 de Julho de 1933. Na fotografia, à esquerda de Pacelli senta-se o vice-chanceler nazi Franz von Papen; à direita Rudolf Buttmann, o embaixador alemão junto do Vaticano.

«Ninguém pensaria em impedir os jovens alemães de estabelecer uma verdadeira comunidade étnica, [baseada] num amor nobre da liberdade e lealdade ao seu país. Aquilo a que objectamos é o antagonismo voluntário e sistemático entre educação nacional e dever religioso»(…)
«Praticada com moderação e dentro de limites, a educação física é uma benesse para a juventude. Mas tanto tempo é agora dedicado a actividades desportivas que o desenvolvimento harmonioso do corpo e do espírito é esquecido e a observação do dia do Senhor negligenciada. (…) Mas esperamos da juventude católica, nas organizações mais favoráveis do estado, que mantenha o seu direito à santificação cristã do domingo».

Este é o conteúdo do ponto 34 da encíclica Mit brennender Sorge, (Com ardente inquietação, restrita à situação da Igreja no Reich, mais nada é abordado nela) de 14 de Março de 1937, «sobre a situação da Igreja Católica no Reich alemão» – «uber die Lage der katolischen Kirche im Deutschen Reich», a tal que é suposta condenar «o racismo nazista de modo solene». Só mesmo uma ardente imaginação permite concluir algo remotamente parecido desta encíclica, que tal como a análoga italiana «Não havia necessidade», reflecte apenas as quezílias inevitáveis entre instituições totalitárias: a Igreja e o Estado, nazi e fascista, respectivamente na Alemanha e em Itália.

As nuvens que toldavam um entendimento de outra forma perfeito tinham a ver com o domínio absoluto e exclusivo sobre certos sectores da sociedade, nomeadamente a educação dos jovens, que quer Estado quer Igreja consideram da sua competência. Em ambas as enciclicas Pio XI reclama uma fatia maior na doutrinação dos jovens, que ele vê usurpada pelo Estado dos dois países, não obstante verberar que tal é garantido pelas Concordatas assinadas entre o Vaticano e a Alemanha nazi e Itália fascista.

A encíclica «Com ardente preocupação», que se inicia relatando as dificuldades encontradas pelo Vaticano nas negociações da Concordata, acusa as autoridades alemãs de violar os termos da dita, especialmente, claro, no que diz respeito à educação. Referindo que existe uma «campanha contra as escolas confessionais, garantidas pela Concordata» responsável pela «extrema gravidade da situação, e da ansiedade de todas as consciências cristãs» coarctadas «do direito de uma educação católica aos seus filhos». Isto é, o que preocupa Pio XI e ele denuncia vivamente, nem sequer remotamente tem a ver com a situação dos judeus ou outros grupos perseguidos, apenas com … o proselitismo católico, que considera ameaçado!

De qualquer forma, o Sumo Pontífice expressa a sua esperança de que se «retorne à fidelidade aos tratados [Concordata] e a qualquer arranjo que seja aceitável ao episcopado». Mas este arranjo aceitável ao episcopado tem a ver apenas com a situação da Igreja católica, não há qualquer condenação de doutrinas ou ideologias, nem qualquer declaração de incompatibilidade do nazismo com o catolicismo. Mais uma vez temos apenas uma condenação de situações pontuais, relacionadas com a Igreja, que o Papa espera serem obviadas com a encíclica.

Aliás, a encíclica, na realidade um longo queixume do Papa, nem sequer menciona ideologias políticas ou algo que não seja relacionado com a perda de poder da Igreja, são necessários grandes dotes de imaginação (católica) para ver nela qualquer combate, ataque ou condenação à ideologia nazi.

Como escreveu Alfredo Pimenta, num artigo publicado em «A Nação» a 16 de Março de 1944 (um longo excerto do artigo pode ser encontrado aqui):

«A Encíclica Mit brenennder Sorge termina por palavras de esperança em melhores dias que deverão ser aproveitadas ‘na luta contra aqueles que negam Deus e arruinam o Ocidente cristão’ – ou seja o Comunismo! E tanto que o Osservatore Romano de 22 e 23 do mesmo mês de Março afirma não acreditar que houvesse um alemão que não apreciasse o desejo do Pontífice de ver a Alemanha ‘no seu lugar de honra entre as nações cristãs contra o satânico flagelo bolchevista’».

(continua)
25 de Junho, 2006 jvasco

Os ateus são maus?

Penso que este pequeno video foi feito a pensar no público americano, mas não deixa de ser muito interessante dar uma vista de olhos: