Então e o relativismo?
O homem que odeia o que apelida de «secularismo ideológico», a separação entre a igreja e o estado, algo a que chama «profanidade total», o grande paladino na luta contra a «ditadura do relativismo» – lamuriando-se que os fundamentalistas católicos estão sob o «jugo» de uma «ditadura» que o impede, como representante mor desses fundamentalistas, de impôr a sua pseudo-moralidade a todos – o cruzado empenhado contra as (limitadas) liberdades em questões de família e sexualidade nos países ocidentais, consideradas uma abominação que urge eliminar, produziu declarações deveras paradoxais no decurso da sua visita à Polónia.
De facto, num show mediático que pretendia compensar o fracasso desta visita, Bento XVI, cujos dotes teatrais estão a milhas dos de João Paulo II, encenou um me(i)a-culpa, tirado a ferros e totalmente insincero, pelos erros do passado do cristianismo junto ao túmulo do Cardeal Stephen Wyszynski, Primaz polaco falecido em 1981.
Meia culpa mesmo assim inesperada já que, como afirma o jornalista e escritor espanhol Juan Arias, «Ratzinger não pediria perdão à ciência pelas perseguições durante a Inquisição. Ele acha que é o mundo moderno que tem de pedir perdão à Igreja».
E de facto embora recomendando «humilde sinceridade para não negar os pecados do passado», Ratzinger afirmou que é preciso evitar julgar «acusações fáceis» a «gerações precedentes, que viveram noutros tempos e noutras circunstâncias».
Isto é, o grande paladino contra o relativismo, afirma ser necessário relativizar os erros da Igreja já que pretende que não os podemos julgar de uma forma absoluta, mas sim relativamente à cultura da época!
Então e que acontece ao absolutismo das verdades morais da ICAR? São só verdades absolutas sob Ratzinger e não sob os anteriores papas? Mas isso não é relativismo? Estou baralhada com a coerência do actual Papa…