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O Cardeal Patriarca de Lisboa e a cadeira

Anda o clero português numa dobadoira sem saber onde sentar o idolatrado rabo de Sua Eminência e os de mais 18 Excelências Reverendíssimas nas cerimónias oficiais.

Não interessa ao clero se os pecados mortais são sete ou passaram a dez com o ódio de Ratzinger à televisão, Internet e jornais. É-lhe indiferente que a água benta se encha de bactérias e que as hóstias percam o prazo de validade à míngua de devoção eucarística.

O que o clero quer é uma cadeira proeminente nas inaugurações, um lugar visível nas tomadas de posse dos políticos, uma foto nos jornais, tempo de emissão no telejornal e um talher à mesa dos poderosos.

Pode o consumo de hóstias estar em crise, as igrejas abandonadas, as homilias desertas, mas é preciso uma cadeira onde o clero exiba a importância, o anel e as vestes luzidias.

Um bispo fica sempre bem numa cerimónia, tal como um porteiro fardado a rigor e os motoristas à saída para, de boné na mão, abrirem as portas dos carros aos senhores.

O rabo de um bispo é uma relíquia que urge cuidar com sentido de Estado, um objecto de culto a que é preciso reservar poiso, uma protuberância que os fiéis apreciem de joelhos no chão e de mãos postas.

O rabo de cardeal vale mais do que o do ministro ou deputado? Se a guerra dos rabos e das cadeiras prosseguir, havemos de encontrar presidentes da junta de fita métrica em punho a discutir com o pároco a precedência dos respectivos rabos.

Quando o clero perde a cabeça só lhe resta a cauda mas, tal como nos lacraus, não deixa de morder.

Fonte: Correio da Manhã