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A teoria da evolução é uma invenção demoníaca

Para a semana John Mackay, um criacionista australiano, inicia uma tournée de dois meses pelos redutos fundamentalistas cristãos britânicos, sossegando crentes da inenarrância da Bíblia, mais concretamente do Genesis, com prelecções imbecis sobre a real idade da Terra (alguns milhares de anos e não milhões) e dissertações surreais sobre supostas provas «científicas» que suportam o criacionismo, o grande dilúvio e a arca de Noé e refutam a evolução.

Mackay é um firme crente e fervoroso disseminador da teoria que a «crença» na evolução foi introduzida por Satanás, uma perversão que infiltrou as sociedades ocidentais e que os missionários cristãos têm como obrigação impedir de se espalhar pelo Terceiro Mundo:

«Satanás só recentemente iniciou a introdução da evolução no Terceiro Mundo com o objectivo de destruir o esforço missionário. Armemo-nos primeiro com a nossa armadura espiritual e providenciemos aos missionários do Terceiro Mundo e a outros as armas para levar a guerra contra as subtilezas de Satanás que procura minar a confiança na palavra de Deus e no trabalho missionário»

A tournée (humorística, não fora ser tão preocupante) inclui um retiro de uma semana com 40 famílias, a Family Creation Conference, em que são abordadas questões tão importantes como: antes do pecado original as abelhas davam ferroadas? Ou havia migrações dos pássaros? E que comiam os grandes tubarões brancos?

O problema com o criacionismo em Inglaterra reside no facto de ser ensinado em muitas escolas evangélicas e na sua versão mais soft, o neo-criacionismo ou IDiotia, sob os auspícios da ministra da Educação Opus Dei, Ruth Kelly, do governo de Tony Blair, ir ser apresentado a todos os estudantes britânicos. Como afirma Steve Jones, um especialista em genética, sugerir que o criacionismo em qualquer forma seja ensinado lado a lado com a evolução é equivalente a «iniciar uma aula de genética discutindo a teoria de que os bébés são trazidos por cegonhas». A Royal Society aliás expressou recentemente a sua preocupação com os ataques cerrados à ciência e à evolução por parte dos fundamentalistas cristãos e as suas manobras para introduzir nos currricula de ciências a teoria cientificamente absurda de que Deus criou mundo.

Steve Jones citou Darwin «a ignorância gera confiança mais frequentemente que o conhecimento; são aqueles que sabem pouco e não aqueles que sabem muito que asseguram que este ou aquele problema nunca serão resolvidos pela ciência» para concluir «A ciência tem provas sem pretender certezas, os criacionistas – têm certezas sem provas».

De facto, o problema das religiões é em minha opinião exactamente esse: todas as religiões são detentoras da verdade absoluta «revelada» que pela sua própria natureza não pode ser alvo de dúvidas, discussão ou refutação. Se um dos aspectos desta fé, que se traduz numa segurança confortável e confortante, é posto em causa ou dá origem a dúvidas então todo o sistema pode colapsar. Por isso o pior inimigo das religiões é o conhecimento, nomeadamente o científico.

Por outro lado este fundamentalismo, esta fé no absolutismo das verdades reveladas, é um catalizador para violência. Se a segurança de alguém está ligada a um sistema de crenças, a uma religião que se afirma a detentora da verdade absoluta revelada por Deus, que recompensará no «Além» os seus seguidores e que afirma que quem refuta essas verdades são aliados do demo, então é perfeitamente legítimo destruir os demoníacos não crentes na defesa e propagação dessas verdades absolutas!