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Galileu e a Igreja (IV – fim)

Em 1621 morreu o cardeal Bellarmine, o papa Paulo V e o grão-duque da Toscânia, Cosimo II. Galileu havia perdido todos os seus principais apoiantes numa altura em que o poder da Igreja Católica recuperava. Antes de Gregório XV ser eleito papa Galileu publica “O Analisador” e durante o seu papado Galileu fortalece a sua amizade com os Barberini. Francesco Barberini havia sido doutorado em Pisa e o seu tio, o cardeal Maffeo Barberini, escreveu a Galileu elogiando-o. Quando Gregório XV morre Maffeo Barberini é eleito Urbano VIII e a dedicatória à família Barberini agradou ao papa. Isso certamente facilitou a possibilidade de seis audiências em Roma, onde Galileu recebeu algumas homenagens. Urbano VIII dá ainda autorização a Galileu de ensinar o Copernicanismo desde que não o defendesse, o que era ainda melhor que o anterior documento que certificava que Galileu não havia abjurado.

É então que Galileu se prepara para escrever uma das obras mais famosas da História da Ciência: “Diálogo sobre os Dois Principais Sistemas do Mundo”. Nele, Galileu simula um diálogo entre os dois sistemas, copernicano e aristotélico, representados por duas personagens, Salviatti e Simplício, respectivamente. Uma terceira personagem, Sagredo, modera o diálogo de forma neutra mas aos poucos toma o partido de Salviatti. O censor de Roma aprova o livro tal como havia anteriormente aprovado “O Analisador” mas desta vez com uma advertência: Galileu deve incluir no texto uma notificação que adverte o leitor de que ele, Galileu, não apoiava o Copernicanismo. Essa notificação poderia ser alterada na forma mas não na substância. Galileu fê-lo, incluindo-o numa espécie de ex-libris, pela boca de Simplício. Os jesuítas agarraram a oportunidade pelos cabelos e fizeram ver a Urbano VIII que estava a ser insultado. Reuniram-se os eclesiásticos para avaliar a situação.

A acusação de Galileu começou por uma acusação de heresia, por ter publicado um livro (com a autorização de Roma, diga-se) em que ensinava o Copernicanismo. As provas? As minutas não assinadas na comissão com Bellarmine. Galileu foi chamado a Roma.

Para além de conhecer o perigo em que se encontrava, Galileu estava muito doente, com dores crónicas, e tentou adiar a ida a Roma tal como o fizera o seu amigo Sarpi. Tentou ainda impedir a distribuição do livro, tarde demais.

O julgamento iniciou-se em Abril de 1633, sem que a acusação conseguisse arranjar algo mais concreto do que o crime de escrever em italiano e não em latim. Galileu usou o documento que lhe havia sido dado por Bellarmine garantido a inexistência de abjuração. Mas a questão para os inquisidores era simples: uma falsa acusação de heresia era tão grave como uma heresia e a Inquisição não é herege, obviamente. Galileu tinha de confessar algo, nem que para isso fosse torturado. O próprio cardeal Barberini o advertiu desse facto. Galileu percebeu que não tinha saída e assinou a confissão.

«Eu juro que sempre acreditei, acredito agora, e com a ajuda de Deus irei no futuro acreditar em tudo aquilo que a Santa Igreja Católica e Apostólica sustiver, pregar e ensinar […] Eu abjuro de coração sincero e genuína fé, eu amaldiçoo e detesto os ditos erros e heresias, e de forma geral todo e qualquer erro e partido contrário à Santa Igreja Católica. E eu juro que no futuro não direi nem defenderei por palavra ou escrita tais coisas que possam trazer-me semelhante suspeita; e se conhecer algum herege, ou suspeito de heresia, que o denunciarei a este Santo Ofício, ou ao Inquisidor e Ordinário do local onde possa estar.»

Galileu foi condenado a uma prisão perpétua domiciliária por sete dos dez cardeais do tribunal. Um dos três que se recusaram a assinar a pena foi o cardeal Barberini.

Galileu Galilei viria a morrer em 1642 mas não sei antes publicar na clandestinidade a sua obra prima: “Discursos e Demonstrações Matemáticas Relativas a Duas Novas Ciências”. A sua influência na Europa viria a contribuir grandemente para a continuidade do desenvolvimento da Ciência agora estagnado, debaixo do peso da Igreja, na Itália onde o próprio Renascimento havia surgido.