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Lúcia como modelo

Se a vida de Lúcia fosse o modelo que o bispo de Coimbra exaltou e defendeu na missa do aniversário da sua morte, surgiria o fim do mundo, que semeou medos e gerações de crentes.

Sem filhos, a futura e promissora santa deu o exemplo que extinguiria o género humano pela greve dos ventres femininos.

Ociosa e contemplativa, deixaria a economia mundial paralisada, os sectores primário e secundário extintos, apenas o terciário (reza do terço) esperaria que o último terráqueo, prostrado de joelhos, se extinguisse por inanição.

Com tantos terços no activo, se todos praticassem tão estimulante exercício, admitindo que o Deus dos padres servisse maná aos devotos, o género humano criaria crostas nos joelhos e calos nos dedos.

Lúcia é hoje um activo financeiro importante, com milagres encomendados, para nutrir a fé dos supersticiosos e encher de esmolas as caixas do santuário de Fátima.

Por isso, passado um ano, fazem-lhe segundo funeral e só não a sujeitam ao macabro espectáculo de um enterro anual porque o exagero mata a fé e gera desconfiança.

Amanhã, domingo, após quatro maratonas eucarísticas e igual número de missas, com a comunicação social a acompanhar o lúgubre cortejo, lá vão depositar os ossos da freira que, nas alucinações juvenis, ouvia vozes, via virgens a poisar nas azinheiras e o Sol às cambalhotas nos campos áridos de Fátima, onde apascentava o gado.