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Dia: 18 de Janeiro, 2006

18 de Janeiro, 2006 Carlos Esperança

Lúcia – Rali Coimbra/Fátima

No próximo dia 19 de Fevereiro a Igreja católica serve aos fregueses um cortejo fúnebre com os ossos da Irmã Lúcia a viajar em beata euforia a caminho de Fátima.

As festividades começam com a exumação do cadáver nos claustros do Carmelo. A largada terá início no convento, com uma paragem técnica na Sé Nova onde terá lugar um festival eucarístico filmado pela RTP e abrilhantado pelo bispo Albino Cleto. A meta ficará instalada no Santuário de Fátima e a mórbida excursão será exibida em directo pelas televisões.

A RTP cederá as imagens do macabro espectáculo aos outros operadores televisivos e o desvario místico atingirá o clímax com a encenação da entrada do féretro no Santuário.

Em criança encerraram-na num convento, depois de morta servem-na à multidão. Em vida privaram-na de tudo, em cadáver cumulam-na de honras. As privações, a fome e o frio provocaram-lhe alucinações que a ICAR aproveitou na luta contra a República e na cruzada contra o comunismo. Agora reservam-lhe a santidade e uma caixa para recolher esmolas.

A santidade é a profissão a que se acede a título póstumo, excepto para o «Sapatinhos Vermelhos» para quem a santidade é profissão e estado civil.

No próximo dia 19 de Fevereiro, enquanto muitos portugueses renunciam à inteligência, a demência da fé, o charlatanismo e a superstição unem-se num espectáculo do terceiro mundo, denunciando o atraso cultural do povo numa manobra de vil proselitismo.

18 de Janeiro, 2006 Palmira Silva

Lei sobre suicídio assistido passa no Supremo

O Supremo Tribunal americano manteve uma lei do Oregão que permite que os médicos neste estado ajudem a morrer com dignidade doentes terminais. A lei estadual, Morte com Dignidade, contestada pela administração Bush e levada ao Supremo por John Ashcroft, foi aprovada em referendo no Oregão e permite que pacientes com menos de seis meses de vida, na plena posse das suas faculdades mentais, comprovadas por dois médicos, e que assim o manifestem por escrito e oralmente, possam obter dos respectivos médicos medicação que os ajude a morrer com dignidade.

A votação sobre a manutenção desta lei estadual, uma das últimas em participa Sandra Day O’Connor, teve os votos contra dos três juízes católicos Roberts, Antonin Scalia e Clarence Thomas. O’Connor, que está de saída do Supremo e para cujo lugar decorrem ainda as audiências ao católico Alito, protagonizou durante os seus anos de Supremo um voto de equilíbrio, nomeadamente porque, como afirmou o director executivo da Americans United for Separation of Church and State, o reverendo Barry W. Lynn «Devemos insistir para que o Presidente Bush a substitua por alguém que respeite a liberdade individual. O’Connor era uma conservadora mas via a complexidade das questões igreja-estado e tentava escolher um curso de acção que respeitasse a diversidade religiosa do país. A sua resignação potencialmente abre a porta à maior mudança na linha do Supremo Tribunal da história moderna».

Se Alito passar no Senado os teocratas terão a maioria no Supremo e questões como a revogação da decisão Roe versus Wade (que permite a interrupção voluntária da gravidez), e a discriminação de homossexuais serão certamente os pontos quentes da agenda do Supremo. E não serão certamente tratadas com respeito pelas liberdades individuais nem atentarão à «complexidade das questões igreja-estado».

Aliás por alguma razão são grandes apoiantes de Alito organizações como a Focus on the Family, que recentemente incitou ao boicote dos produtos de grandes empresas americanas como a Microsoft, Boeing, Hewlett Packard e a Nike que assinaram uma carta urgindo a passagem da lei que inclui a orientação sexual na lei anti discriminação ou a Faith and Action, ambas grandes apologistas da imposição a todos dos «valores cristãos» e da «liberdade cristã» o que significa simplesmente que pretendem ver criminalizados ou discriminados todos os que não seguem as «verdades absolutas» cristãs!

18 de Janeiro, 2006 Ricardo Alves

O mundo das religiões dá mais uma volta

A Igreja Anglicana da Inglaterra poderá, muito em breve, autorizar que as mulheres ascendam a bispo ou arcebispo.

O relatório que propõe esta alteração será discutido em Fevereiro, e poderá provocar uma cisão semelhante à registada em 1994, quando a autorização para que as mulheres fossem sacerdotes levou a que 400 padres anglicanos (alguns dos quais estavam e permanecem casados) se tornassem católicos. Deve acrescentar-se que as igrejas anglicanas dos EUA, do Canadá e da Irlanda (entre outras) já autorizam que as mulheres sejam bispos e que portanto ordenem padres.

Este último avanço para a causa da igualdade dos sexos na sociedade civil isolará ainda mais as igrejas católica ortodoxa e católica romana como derradeiros bastiões, entre as maiores igrejas cristãs, da total misoginia eclesiástica. A variedade católica romana, que demonstra uma tão doentia aversão aos mais naturais impulsos humanos que até proíbe o matrimónio à esmagadora maioria dos seus sacerdotes, é neste particular ainda mais retrógrada do que os católicos ortodoxos.

A decisão anglicana, a confirmar-se, será também um fracasso para a diplomacia do Vaticano, que conseguira dos Anglicanos, em Maio de 2005, um documento comum sobre a «virgindade» e a «assunção» de Maria. A ICAR esperava, presumivelmente, que este documento orientasse a Igreja de Estado da Inglaterra na promoção da mulher casta e submissa que os dogmas católicos mais recentes tentam garantir.