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A ICAR e a economia da homofobia

Vamos supor.

Vamos supor que a “contratação de Padres” pela Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR) funciona de acordo com os pressupostos de Adam Smith, do mercado livre, de acordo com as leis da oferta e da procura. Que impacto teria a exigência de uma vida de celibato, nos ordenados e na quantidade de Padres?

A linha a vermelho representa a procura de Padres pela ICAR: o preço que pagaria, por Padre, para obter um determinado número de Padres. Obviamente que não se trata de uma decisão centralizada, mas sim no englobar das procuras das várias paróquias do país.

A linha a azul, de baixo, representa a oferta de Padres: relaciona o preço que a ICAR pagaria por um Padre com a quantidade de induvíduos dispostos a sê-lo. Isto assumindo que a ICAR não exigiria o celibato.

A linha azul, de cima, representa a oferta de Padres, desta vez tendo em conta o incómodo que representa o celibato para a maioria dos indivíduos.

Se este modelo estivesse razoavelmente adequado à realidade, poderíamos concluir que a exigência de celibato pela ICAR faria com que a quantidade de Padres no mercado fosse inferior (face à não exigência: de Q1 para Q2), e com que o valor pago a cada Padre fosse superior (de S1 para S2).

Vamos agora supor que existe um grupo da população masculina que, devido a preconceitos sociais, não poderia viver numa situação que preferissem francamente face ao celibato (chamemos ao grupo “homossexuais”, e ao preconceito “homofobia”).
Para esta camada da população, o celibato não seria uma grande desvantagem. Assim sendo, se esta população representasse uma percentagem razoável da população total (imaginemos que o palpite do Expresso dos 10% estava correcto), isso iria alterar a curva da oferta. De que maneira?

A linha vermelha e a linha azul continuam a representar a mesma coisa.
A novidade deste gráfico é a linha verde, que representa a oferta de Padres numa população mista e sujeita aos referidos preconceitos. Até à linha cinzenta horizontal, apenas membros deste grupo (homossexuais) aceitam o emprego que requer o celibato. A partir daí, pessoas de ambos os grupos decidem ser Padres.

Note-se que, nesta população mista, se não existisse qualquer preconceito quanto à orientação sexual, o celibato seria considerado desvantajoso para todos, independentemente da dita orientação. Assim sendo, a oferta global seria traduzida pela linha azul de cima.

Se este modelo fosse uma representação razoável da realidade poderíamos concluir que:

a) A homofobia seria um preconceito útil à ICAR, na medida em que a quantidade de Padres no mercado (Q3) seria superior aquela que existiria sem preconceito (Q2). Por outro lado, o dinheiro pago aos Padres aumentaria (de S1 para S2).

b) Assim sendo, à medida que as sociedade se fossem tornando mais tolerantes e menos homofóbicas, a quantidade de Padres diminuiria rapidamente, causando uma crise de vocações: a ICAR iria sentir falta de Padres.

c) Devido à existência de tal preconceito nas gerações anteriores, a ICAR contaria entre os seus elementos uma percentagem de homosexuais superior à da sociedade. Isto advém da proporção de homosexuais entre Q1 e Q3 ser a da sociedade, mas até Q1 todos os Padres serem homosexuais. Assim sendo, a proporção de homossexuais na ICAR (PHI) seria, em função da percentagem de homosexuais na sociedade (PH):

PHI = PH + (1-PH)Q1/Q3 > PH

Notas adicionais:

1- obviamente os gráficos são apenas ilustrativos. Este raciocínio apenas mostra as variações qualitativas nos rendimentos e nas quantidades de Padres no mercado. Para conhecer as proporções (e o significado) destes factores teríamos de conhecer os parâmetros das funções de oferta e de procura (em particular, as respectivas elasticidades)

2- sabe-se que para alguns Padres a exigência de celibato não terá representado grande incómodo. Mas, como é óbvio, para a maioria dos Padres representa.

3- este artigo também foi publicado no Banqueiro Anarquista.