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Dia: 3 de Dezembro, 2005

3 de Dezembro, 2005 Palmira Silva

Zâmbia bane IURD

Na passada terça feira a Igreja Universal do Reino de Deus foi banida na Zâmbia depois de ser acusada de praticar satanismo e sacrifícios humanos. Já em 1997 o governo da Zâmbia tinha banido a IURD, por «práticas anti-cristãs», mas esta apelou da sentença obtendo a revogação da decisão no Supremo Tribunal.

O Ministro do Interior da Zâmbia, Peter Mumba, informou os repórteres que «O governo decidiu suspender as operações da Igreja na Zâmbia com efeitos imediatos, (…) de forma a permitir investigações das alegações, que consideramos muito sérias».

A decisão governamental foi tomada escassos dias depois de milhares de pessoas se terem manifestado violentamente em frente a um dos templos da IURD na capital, Lusaka, devido à existência de rumores de que existiriam pessoas raptadas, prestes a serem sacrificadas, no seu interior. Depois de a polícia ter sossegado os ânimos dos manifestantes, os dois homens que a multidão afirmava terem sido raptados para rituais satânicos, sairam, pintados dos pés à cabeça, de dentro do edifício. Ambos não se recordavam do que lhes tinha acontecido nem como tinham ido parar ao interior da Igreja.

No dia seguinte uma multidão incendiou uma igreja da IURD em Kanyama, uma cidade ao sul de Lusaka, e marchou para uma recém-construída catedral de muitos milhões de dólares que a IURD era suposta inaugurar na semana que decorreu.

3 de Dezembro, 2005 Palmira Silva

Dois milénios de obscurantismo – a patrística

Como a própria Enciclopédia Católica Popular indica, a Idade Média foi um período de total domínio da Igreja Católica que imprimiu «à Europa a visão teocêntrica do mundo, o ideal do império sujeito ao Papado (Cris-tandade) e a organização da vida do povo em torno dos princípios doutrinais e morais do Cristianismo». Os ecos desta «longa noite de mil anos», uma época de trevas e de obscurantismo, um tempo em que o homem, marcado indelevelmente pelo pecado original, morre para fazer viver Deus, ainda hoje se imprimem na sociedade actual, especialmente no Sul da Europa que a Reforma protestante não libertou da asfixia intelectual imposta pela Igreja de Roma.

De facto, se as culturas gregas consagraram como valores fundamentais o saber e a razão, o cristianismo procurou contrapor aos mesmos a superioridade da Fé revelada. Assim, o abandono do saber e da razão e a subordinação (e asfixia) de todo o conhecimento à religião marcou o pensamento europeu durante a Idade Média. Os únicos pensamentos «originais» que surgem, especialmente na Alta Idade Média (até ao século X), têm a ver com temas cristãos, tais como a providência e revelação divinas, a criação a partir do nada (creatio ex nihilo) e afins.

Podemos dividir a cultura cristã medieval em dois períodos, um designado por Patrística (séculos II-VIII), porquanto representa o pensamento dos pais da Igreja, os construtores da teologia católica e que domina na Alta Idade Média, e a Escolástica que se segue e termina com a (Baixa)Idade Média. Os expoentes destas escolas de pensamento são, como não poderia deixar de ser, Agostinho de Hipona e Tomás de Aquino, respectivamente.

O De doctrina Christiana (397) do inescapável Agostinho de Hipona (354-430) será a obra que dominará toda a cultura cristã medieval, obra que tem como objectivo formar o vir Christianus dicendi peritus, o cristão que através do uso judicioso da cultura antiga aplicada às Escrituras adquire sabedoria e habilidades retóricas necessárias à sua eficiência no disseminar da doutrina cristã. Agostinho quer assim uma cultura total e directamente subordinada ao cristianismo, em que todas as manifestações da vida intelectual estão ao serviço da vida religiosa, não sendo mais que uma função desta. Para Agostinho a vida intelectual do cristão deve opor-se de forma radical à cultura tradicional dos sábios do seu tempo, à estética do letrado e à curiosidade do erudito. Todas as ciências irrelevantes para este objectivo devem ser abandonadas por pagãs ou contrárias à verdade revelada.

De facto, Agostinho viveu numa época de transição e conviveu com a cultura greco-romana que lhe serviu de inspiração, especialmente Platão, ou melhor, o neoplatonismo de Alexandria. Assim, cristianiza selectivamente a cultura greco-romana, com ênfase em Platão, extirpando o que considera erro comum de todos os filósofos antigos: a exaltação da razão, considerada a mais alta manifestação do homem. À razão Agostinho contrapunha a revelação e, traçando o caminho para o obscurantismo medieval cristão que se vai seguir, recomenda a colecção, numa só obra de preferência o que deu origem ao enciclopedismo medieval, de todos os conhecimentos do mundo clássico necessários à interpretação e ensino dos textos sagrados e ignorar (isto é, suprimir) os restantes.

Talvez a expressão Sapientia Dei, Scientia Mundi descreva os dois aspectos da cultura cristã agostiniana, o superior, a sapiência, a contemplação das «verdades eternas» divinas, e o inferior, a ciência, que consiste na interpretação dos dados sensíveis. Deveras interessante são as várias conotações que Agostinho dá à ciência, pejorativa quando corresponde a um considerado uso perverso e culpado da razão, que ocorre quando o objectivo é o conhecimento de per se, uma explicação do mundo sensível e não um meio para chegar a Deus.

A interpretação de ciência de Agostinho conjuntamente com a desvalorização da vida terrena, já que o mundo medieval não tinha qualquer valor intrínseco, era apenas uma passagem para um outro mundo, traduziu-se numa desconfiança pelos dados dos sentidos e, em particular, pelo conhecimento empírico que perduraram em toda a Alta Idade Média. O fundamento para a verdade seria unica e exclusivamente a Bíblia, a palavra revelada de Deus e quem a pusesse em dúvida um perigoso herege que urgia exterminar antes que contaminasse outrem com o seu pensamento impuro.

Para esta subordinação do conhecimento à religião contribuiu igualmente a desagregação do sistema de ensino da antiguidade clássica que acompanhou a queda do Império Romano no Ocidente. A Igreja monopolizou o conhecimento, os clérigos foram durante muito tempo os únicos letrados e as instituições de ensino romanas foram substituídas por mosteiros. O pouco ensino praticado assentava exclusivamente na interpretação da Bíblia.

De igual forma na Alta Idade Média, as bibliotecas foram transferidas para mosteiros e conventos. Aí, em húmidos scriptoria, os manuscritos eram conservados, copiados, cristãmente interpolados (o que passava por tradução à época) e ilustrados. Uma colecção de 200 volumes, criteriosamente escolhidos e censurados de acordo com a doutrina agostiniana, era considerada uma grande biblioteca. Alexandria no seu apogeu possuía 700 000 volumes…

3 de Dezembro, 2005 Carlos Esperança

Pios avanços na terapêutica do cancro

João Paulo II, aquele papa supersticioso, que acreditava em milagres e na bondade do Opus Dei, está a caminho da beatificação com um feito ocorrido em França.

Segundo a Agência Ecclesia, uma Irmã religiosa, vítima de cancro, obteve a cura sem explicação científica.

Este milagre vem a calhar para a carreira de santidade de JP2 pela qual zelam os meios mais conservadores da ICAR. O milagre foi adjudicado ao cadáver do Papa polaco.

Curiosamente já o santo Escrivá começou a corrida para a santidade com um milagre na mesma especialidade numa freira cuja madre superiora lhe desconhecia a doença. Em vida tinha sido um biltre ao serviço da ditadura de Franco e dos negócios da fé.

JP2 fez numerosos milagres em vida: recusou extraditar o bispo Marcinkus para prestar contas à justiça italiana na falência do Banco Ambrosiano, abafou o escândalo do assassinato do chefe da Guarda pontifícia; ocultou os motivos da morte de João Paulo I que pretendia investigar as contas do IOR (Banco do Vaticano) e que, para castigo, Deus só o deixou ser Papa 33 dias.

Já em vida, convencido de que tinha procuração divina para administrar os negócios de Cristo & Herdeiros, JP2 fazia curas com as mãos. Esses milagres não contam porque só os defuntos podem conviver com Deus. É o tráfico de influências entre cadáveres.