Loading

Dia: 18 de Novembro, 2005

18 de Novembro, 2005 Ricardo Alves

O segredo da confissão é um privilégio clerical

Um juiz de um tribunal dos EUA, que está a analisar cerca de 550 acusações contra a arquidiocese de Los Angeles, principalmente casos de abuso sexual de menores, decidiu que os sacerdotes católicos não podem invocar o «segredo de confissão» para se furtarem a depor sobre crimes de que tenham tido conhecimento ao ouvir em confissão outro padre.

Infelizmente, em Portugal esta decisão judicial seria impossível: a Concordata de 2004 garante, no seu artigo 5º, que «os eclesiásticos não podem ser perguntados pelos magistrados ou outras autoridades sobre factos e coisas de que tenham tido conhecimento por motivo do seu ministério». Convido portanto os pais de crianças que frequentam as actividades da igreja católica local, ou colégios da dita confissão religiosa, a meditarem muito bem na situação…
18 de Novembro, 2005 Palmira Silva

Desonestidade intelectual

Philip E. Johnson, um dos «pais» da IDiotia e autor do livro «Darwin on Trial», descreve-se como um cristão conservador criacionista, que acredita que o evolucionismo é incompatível com a crença num Deus omnipotente, criador do céu e da Terra e do Homem à sua imagem. Para este IDiota a evolução é uma filosofia (fundamentalista) ateísta e naturalista considerando ainda que «Ser um cientista não é necessariamente uma vantagem, quando lidamos com um tópico tão abrangente como a evolução, que se entrelaça com muitas disciplinas científicas e também envolve toques de filosofia.» E considera que os cientistas deveriam esperar por autorização «superior» das instâncias religiosas antes de ousarem explicar algo já «explicado» pela religião (cristã, claro).

Mas Jonhson, o porta-voz não oficial da IDiotia e com uma ligação estreita ao seu templo máximo, o Discovery Institute, deixou muito claro numa entrevista que o objectivo da IDiotia é vender o criacionismo (mal)disfarçado de «teoria» científica. E, como o próprio afirmou, a polémica em relação à evolução «Não é de facto, nem nunca foi, um debate sobre ciência. Apenas sobre religião e filosofia». Ou seja, as hostes cristãs, recentemente reforçadas com Bento XVI, que se empenham fanaticamente nas chamadas guerras da evolução, não obstante os seus inconvincentes protestos em contrário, estão de facto empenhados numa guerra religião contra a ciência, tentando recuperar para a religião a autoridade perdida na explicação do mundo!

O presidente do Conselho de Educação do Kansas, Steve Abrams, que recentemente aprovou não só a introdução da IDiotia nos curricula de ciências do estado como também uma redefinição de ciência, proposta pelo Discovery Institute, claro, que na prática reduz a ciência ao método científico e a despoja da capacidade de elaboração de teorias naturais (ateístas para os IDiotas) de explicação do mundo, parece partilhar da desonestidade intelectual subjacente a todos os fundamentalistas IDiotas.

Num editorial publicado num jornal do Kansas o devoto cristão lança acusações contra todos os que, correctamente, criticam a sua introdução nas aulas de ciências do sobrenatural (com a redefinição de ciência) e do criacionismo disfarçado de IDiotia. Nesta elegia da desonestidade intelectual Abrams queixa-se dos (muitos) directores de escolas do Kansas que já fizeram saber que não acatarão as alterações quer nos curricula quer na definição de ciência impostas pelos iluminados cristãos IDiotas. Afirmando que tal comportamento não é de espantar já que os directores que se recusam a vender religião por ciência são os mesmos que, segundo Abrams, promovem «pornografia como literatura». Na realidade, olhando para a lista de livros recomendados para as aulas de literatura americana, fico na dúvida se serão os títulos Fallen Angels (Anjos Caídos) ou The Hot Zone (A zona quente) que mereceram tal designação. Embora em relação ao último não esteja a ver como o relato de uma epidemia de Ebola possa ser considerado pornográfico, não obstante o título…

De qualquer forma as torpes calúnias saídas da pena do piedoso Abrams sobre os que não aceitam introduzir religião nas aulas de ciências são moderadas face às insinuações de outro devoto (ex-)membro de um Conselho de Educação IDiota, este em Dover, Bill Buckingham que no julgamento ainda em decurso nesta localidade da Pensilvânia, perguntou a um dos promotores da queixa contra a decisão de introduzir a IDiotia nos curricula de ciências se este alguma vez tinha sido acusado de pedofilia

18 de Novembro, 2005 Carlos Esperança

Anglicanos à beira do cisma

As três religiões monoteístas não toleram a sexualidade pura ou a simples sexualidade. Sem procriação é um mal absoluto, razão pela qual condenam à morte os homossexuais.

O carácter misógino que a Tora reflecte, oriundo de culturas anteriores, foi plagiado pelo Novo Testamento e encontrou defensores acérrimos em Paulo de Tarso e Agostinho, dois santos doutores, sofríveis cidadãos e execráveis beatos.

O próprio Papa Paulo VI, que odiava mulheres mas tinha especial carinho por homens, não fazia mais do que ser coerente com a fé. O resto eram fraquezas.

Claro que o delírio esquizofrénico contra as mulheres e os homossexuais atinge o seu esplendor no Corão, esse plágio tosco da Bíblia cristã, feito por Deus e ditado durante vinte anos à cabeça dura de um profeta analfabeto.

A ordenação de mulheres – um ser inferior como declaram os livros sagrados e garantem os santos doutores – está na origem de um eventual cisma da Igreja anglicana, agravado pela sagração de bispos homossexuais.

O anglicanismo, muito próximo do catolicismo, digere mal a liberdade sexual, ou melhor, a transparência. Os bispos podem ser homossexuais – houve e há muitos -, mas não se deve saber. Houve papas homossexuais mas não se admite oficialmente.

A hipocrisia é uma característica eclesiástica muito arreigada.

Os crentes julgam que estas taras foram debeladas e que a igualdade entre sexos é uma evidência. Transcrevo da Visão de hoje, palavras do patriarca Policarpo (EM FOCO, pg. 34): «Muitas [mulheres] lamentam que a Igreja seja demasiadamente masculina. Não é de facto, e sê-lo-á cada vez menos na medida em que mais mulheres sejam santas e sejam capazes de abraçar o mundo num acto de amor».

E por que não abraçar um homem ou uma mulher? Abraçar o mundo deve ser uma metáfora sexual só para crentes.