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Da decadência

O DN já há algum tempo que nos vem habituando às pérolas desse verdadeiro profeta da anti-modernidade que é JCN, mas há pouco tempo tivemos a oportunidade de conhecer outro dos profetas (menores) da ICAR: Monsehor Luís Delgado.

Diz-nos Luís Delgado que até para os ateus a manifestação de fé que se deu em Lisboa no sábado foi impressionante, e realmente tem razao. Foi impressionante ver tanta gente movida pelo irracional e pelo cego. Pessoas que sem pensar no que fazem dão o seu apoio à hierarquia de Roma e âs suas acções e conspirações.

Fala-nos quase como se estivessemos a presenciar o renascimento católico da nação, com pessoas de todas as idades nas ruas a dar mostras de fé. É a conversão dos ímpios á veradeira fé, pelo tom do nosso profeta de serviço parece que o reino do senhor neste mundo deve estar para breve. A julgar pelo exemplo de Timor Leste deverá, provavelmente, ser acompanhado da institucionalização do catolicismo e todos os seus previlégios, reclamando como direito fundamental da liberdade religiosa a opressão dos demais.

Segue-se o que eu chamaria o momento da apoteose da retórica:

“Foi inédito, grandioso, elevado e regenerador, particularmente num momento do País e dos portugue-ses em que nada dá esperança, em que o futuro é uma incógni-ta e em que as dificuldades se avolumam”

Isto é religião no seu sentido popular mais puro, um narcótico contra as dores do mundo, algo que negue a realidade. A ilusão que apesar de se saber falsa permanece por falta de alternativa ou coragem. Ao querer elevar a sua fé (sim porque também afirma que a dele é especial) Luís Delgado mostra-nos o seu lado mais miserável e aproveitador.

O texto termina com esta frase seguida de mais umas quantos desejos relativos à perenidade da ICAR:

“Calem-se, por um momento, os que achavam o contrário, e que no seu pessimismo agnóstico e militante tentavam reduzir a Igreja a um bastião ultrapassado e sem futuro..”

Trata-se de puro delírio de quem sente a rédeas do presente a escaparem-lhe. O indivíduo torna-se autónomo em todas as esferas e a governaçao por decreto “divino” transforma-se em algo impraticável.

A decadência do catolicismo nao é de hoje nem pode ser negada por profetas amadores como Luís Delgado ou César das Neves. Só parecem existir dois cenários: a irrelevância e impotência pública ou a fragmentação. Estas são as verdadeiras e inevitáveis escolhas do catolicismo.