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Dia: 16 de Agosto, 2005

16 de Agosto, 2005 Carlos Esperança

Taizé: Irmão Roger assassinado esta noite

O irmão Roger Schutz foi assassinado esta noite durante uma cerimónia religiosa em Taizé, a comunidade ecuménica que fundou em França, em 1940. O religioso de 90 anos foi esfaqueado três vezes durante a oração da noite que se celebrava na igreja da Reconciliação.

A presumível autora do crime é uma mulher romena, de 36 anos, que foi detida, segundo disse uma fonte policial citada pela agência AFP.

Apesar do socorro imediato foi impossível evitar que o monge resistisse aos ferimentos.

16 de Agosto, 2005 Carlos Esperança

A homilia de Bento XVI

Rome: Benoît XVI invite à ne pas retirer les crucifix des lieux publics
Crucifix, crèches et cours de religion: agacementsRome, 15 août 2005 (Apic) Le pape Benoît XVI a invité à rendre Dieu visible et à ne pas retirer les crucifix des lieux publics, le 15 août 2005, revenant ainsi sur une polémique apparue deux ans plus tôt en Italie. (…)

Li o teor da homilia de B16, proferida no dia 15, na igreja da paróquia de Castel Gandolfo, residência de férias dos Papas romanos:

O Papa B16 retoma uma polémica de 2003 em que um juiz mandou retirar um crucifixo de uma escola pública em nome da laicidade de Estado.

Para Bento XVI (B16) o crucifixo deve estar presente em todos os locais públicos e privados, nos caminhos e praças, como testemunho da presença divina. O artigo só é omisso quanto à intenção de plantar crucifixos em países doutras religiões.

Mas vejamos o caso da Itália:

Não surpreende este fanatismo do velho inquisidor – querer crucificar a humanidade. Só admira que não lhe ocorra que o Estado possa querer a bandeira italiana nas igrejas, a foto de Berlusconi suspensa no transepto e um altar para Garbaldi ou Giordano Bruno.

Que diria o pio inquisidor, perseguidor de teólogos progressistas, censor de livros e filmes, se em Portugal, por exemplo, a bandeira verde-rubra tremulasse no cimo dos campanários, se o altar-mor de cada igreja ostentasse um busto do Dr. Sampaio, se no adro das igrejas houvesse um monumento a Afonso Costa ou no átrio dos conventos fosse obrigatória uma estátua de Joaquim António de Aguiar?

O Papa quer a cruz em todos os lugares em vez dos símbolos do Estado democrático.

Se as outras religiões disputam a fé, cabe ao Governo disciplinar o mercado e garantir a concorrência.

Se o Papa quer o catecismo nas Escolas, eu quero que se estudem as leis da República nas Igrejas. A ICAR pôs os alunos das escolas públicas a copiar a Bíblia. O Estado devia obrigar os seminários e os colégios católicos a copiar a Constituição.

O Papa é obsoleto, mas perigoso. Os livres-pensadores têm de barrar-lhe o caminho.

16 de Agosto, 2005 Carlos Esperança

XX Jornada Mundial da Juventude

Multidão em festa oferece nova imagem da Igreja – diz a Agência Ecclesia

Bastam os 760 bispos, sendo 63 deles cardeais, e largas centenas de padres, arciprestes, vigários, monsenhores e cónegos, e o colorido das suas bizarras indumentárias, para que o fiasco seja evitado e sete mil jornalistas e muitos operadores de imagem justifiquem a deslocação.

O Papa B16 ameaçou varrer a Europa com um «vento de nova fé». Mas faltam hoje ao velho inquisidor os instrumentos de persuasão do Santo Ofício.

Para a organização do comício foram gastos 100 milhões de euros. Quinhentas mil garrafas de água por benzer serão distribuídas e a organização conta com 30 mil voluntários mobilizados para dar serventia ao evento.

Os bispos alemães contam arregimentar 350 mil jovens para verem ronronar de contentamento o pastor alemão que regressa às origens em visita de negócios místicos.

Só para as missas de abertura desta tarde os padres emborcaram 160 litros de vinho que, depois dos sinais cabalísticos da praxe, passa a sangue de Cristo e mantém o teor alcoólico.

Durante as festividades serão consumidas 2,8 milhões de hóstias consagradas cuja diferença das não consagradas só com muita fé se nota.

Fonte: Agência Ecclesia

16 de Agosto, 2005 Carlos Esperança

Ir a Colónia ver o Papa

As delegações regionais da ICAR reuniram esforços para levar à Alemanha meio milhão de jovens para se genuflectirem aos pés do velho inquisidor que geriu a sua própria promoção a Papa. Trata-se da chamada 20.ª Jornada Mundial da Juventude.

B16 é perigoso pela inteligência, habilidade e determinação, mas falta-lhe a mínima simpatia, o mais leve traço de humanidade e a mais elementar manifestação de bondade.

A ICAR, Empresa milenar, está habituada a lidar com Papas de todos os tipos, desde os perversos, que fizeram do Vaticano um antro de devassidão e escândalo, até aos Papas modernos, sofisticados e cultos, manhosos na arte da sedução e tenebrosos a corromper Governos e ONGs, especialistas a infiltrar o veneno religioso nos centros do poder.

A ICAR joga uma dupla cartada nesta maratona da fé organizada com profissionalismo e amplos recursos. Por um lado finge que o Papa é amado pela juventude, por outro que a Alemanha, onde as igrejas se encontram desertas, é fértil em proselitismo, apto a rojar-se aos pés do pastor alemão, que regressa a casa ricamente paramentado, com um vasto programa de propaganda e um amplo séquito, luzidio e colorido.

A próxima semana será muito importante para a ICAR e para a Europa laica. O lugar-tenente de Cristo fará um número de ilusionismo que dê visibilidade à ICAR ou permitirá que o desinteresse do seu país natal se manifeste?

No primeiro caso teremos um lamentável sucesso do marketing eclesiástico, com uma multidão de cardeais, bispos e monsenhores em exibição. No outro, teremos um fiasco que o ruído de meio milhão de jovens aliciados pelas sacristias não conseguirá disfarçar.

É também no espaço mediático que se trava a luta entre a laicidade e o charlatanismo religioso. A derrota religiosa é uma vitória do progresso, da civilização e da democracia.

16 de Agosto, 2005 jvasco

Somos todos irmãos

Deve fazer cerca de 7 anos que isto aconteceu. Era 29 de Julho e um amigo meu fazia anos.
Eu era ateu há muito pouco tempo, mas este meu amigo já o era há uns anitos, e a maioria dos amigos dele que estavam presentes, também. No entanto, uma amiga dele não só era católica como até fazia parte do coro da igreja. Depois do jantar, algures num bar agradável, falou-se de tudo: política, física, criação do universo e… religião. Por estar em minoria, e talvez por ser insegura, por mais que se falasse no ateísmo, a rapariga não discutiu nada: permaneceu sempre muito calada. Até que o aniversariante, ao ver os olhares dela de aprovação em relação a tudo o que era dito, e sabendo da realidade, lá lhe disse: «Mas tu não és católica?». Ao que ela respondeu:

-Sou católica, sim, mas eu também tenho muitas dúvidas. Por exemplo: Jesus diz que somos todos irmãos, mas depois condena o incesto. Como é que será possível depois as pessoas terem filhos?

Conhecendo a peça, é possível saber que não se tratava de nenhuma ironia refinada. Depois de lhe explicarmos que o «somos todos irmãos» era uma alegoria, e que não era por aí que a fé cristã falhava, pudemos voltar alegremente à nossa conversa.