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Leitão sem laicidade

A cidade da Mealhada – conhecida pelo leitão assado, pelo pão e pelas Caves Messiashomenageou o ex-administrador apostólico da diocese de Díli, o bispo Carlos Ximenes Belo, sob o pretexto dos 25 anos da sua ordenação sacerdotal.

Esta iniciativa é promovida pela Câmara Municipal e inclui, para além de uma exposição biográfica (patente na biblioteca do município), uma missa celebrada hoje no convento de Santa Cruz no Buçaco.

Parece que o senhor Carlos Cabral, Presidente da Câmara Municipal da Mealhada, não está familiarizado com um dos princípios fundamentais da República: o princípio da separação da Igreja do Estado. Ora, ao homenagear Ximenes Belo na sua qualidade de sacerdote da ICAR – e não como prémio Nobel ou resistente da ocupação indonésia – está a violar de forma inadmissível a laicidade do Estado.

Frequentemente, somos confrontados com iniciativas, mais ou menos patrocinadas por órgãos do Estado, que dão uma facadinha nas costas dos princípios essenciais do Estado de Direito Democrático: em primeiro lugar, temos a Concordata e a Lei da Liberdade Religiosa; depois, uns dias de luto nacional pela morte da senhora Lúcia e de João Paulo II e as capelanias hospitalares; finalmente, temos eventos publicitários inocentes como a Bíblia Manuscrita, que levou a cópia daquele livro a escolas públicas e prisões e hospitais. Tanta coisa chateia e faz com que a nossa democracia comece a cheirar a sacristia.