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O hipermercado da fé

Há sessenta anos a Virgem viageira poisava nas azinheiras e mandava rezar o terço às criancinhas. Em campanha eleitoral, contra o comunismo e a República, agendou umas sessões de esclarecimento para a Cova da Iria onde reuniu três inocentes pastorinhos.

Disse-lhes que «Nosso Senhor» andava muito zangado e que era preciso rezar muito. Quanto ao mau feitio do referido indivíduo percebe-se hoje melhor o mau humor e apenas se desconhece se continua de trombas ou se já se dá por satisfeito com milhões de terços rezados e com o fim do comunismo.

A Lúcia era a única que via e ouvia a tal Virgem que lhes disse: «eu sou a Nossa Senhora» e, por especial deferência, teve direito a ver o Inferno onde se encontrava o Administrador do Concelho de Ourém que, em vida, não ia à missa. Teve ainda direito a outros mimos como foi o caso da visita de Jesus Cristo que foi a Tuy, de propósito, para a visitar na cela, em rigorosa clandestinidade.

Mas, para que não se pensasse que as crianças eram parvas e se punham a inventar coisas, a Senhora de Fátima, como depois havia de ficar conhecida, mandou o Sol fazer piruetas perante numerosos fregueses atraídos pelas aparições e maravilhados com o espectáculo.

E foi assim, faz hoje 60 anos, que um lugar rústico do concelho de vila Nova de Ourém se tornou no promissor sector terciário, graças ao terço e às peregrinações.

O Papa que mais protegeu o negócio foi o defunto JP2 que hoje, contra as tradições da ICAR, viu o Papa Ratzinger anunciar o requerimento para a promoção a beato. Antes de JP2 só depois de cinco anos decorridos é que se podia meter os papéis.

O negócio está próspero e os milagres vão aumentar. Há grandes investimentos para a promoção do sobrenatural até porque a concorrência de outras seitas mais pequenas e ágeis se adiantaram no ramo. Assim, dentro e breve João Paulo II será vendido como santo, em madeira, bronze, cristal e porcelana, fabricado nas Caldas da Rainha, na Vista Alegre e em numerosas fábricas que vão requerer o alvará de fabrico.

Sexta-feira, 13, é o dia da sorte para os negócios da fé. A RTP, canal de serviço público, desde ontem que tem o tempo de antena adjudicado à ICAR.