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Dia: 10 de Março, 2005

10 de Março, 2005 Mariana de Oliveira

Infame decreto

O decreto 7/2005, de 1 de Março, da Presidência do Conselho de Ministros representa um dos mais flagrantes atropelos à Constituição da República Portuguesa. Este documento decreta o luto nacional pela morte da senhora Lúcia.

A Lei Fundamental, no seu art. 13º, estabelece um princípio da igualdade, ou seja, «todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei» (número 1)e «ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica ou condição social» (número dois). Mais à frente, no art. 41º, estipula-se o seguinte: «a liberdade de consciência, de religião e de culto é inviolável».

Ora bem, o mencionado decreto afirma que «a Irmã Lúcia foi um dos testemunhos vivos de um acontecimento decisivo na História do Portugal contemporâneo – a sequência das aparições de Fátima -, tendo consagrado toda a sua existência a um culto e a uma reflexão que não deixaram indiferentes largas camadas da população portuguesa, incluindo os não-crentes». É inegável que a existência daquela senhora marcaram os não-crentes, especialmente com mensagens tão democráticas como aquela em que diz que Salazar foi um enviado de Deus.

Mas o pior deste texto é o facto de o Governo da República Portuguesa considerar como verdadeiras as aparições de Fátima, fenómeno contestado mesmo no seio da própria Igreja Católica, com o decreto a insistir: «de facto, as aparições de Fátima, de que a Irmã Lúcia foi directa interveniente (…)».

É inadmissível que, trinta anos após o fim do fascismo, tenhamos tido um executivo que vergasse a República de uma forma tão indecente à religião. É nestas alturas que desejo ter nascido por alturas da Primeira República.

10 de Março, 2005 André Esteves

Fait Divers dos Últimos Dias

Esquizofrénico mata filho de 4 anos por ser o anti-cristo

«Ele tinha o número da besta, 666, tatuado na testa.» – foi uma das desculpas que Ivan Henk apresentou, por ter raptado e morto o seu filho de 4 anos. Foi condenado a prisão perpétua.
O Fait-Divers

Casamento hindu de 4 crianças com cães para afastar o «mal»

Em Kuluptang na província de Jharkhand na Índia foi realizado um kukur vibaha.
Trata-se de um casamento ritual com cães, de maneira que estes carreguem o mau karma que as crianças possam ter. Neste caso, um dos dentes de leite de uma das crianças nasceu antes dos outros.

(Coitados dos cães, já não basta o resto. Agora, carregar com o mau karma dos humanos. De qualquer maneira, não me parece ser um bom começo para um casamento…)
O Fait-Divers

Iraniana pede divórcio. Causa: marido não toma banho há anos…

O marido até era limpo. Demasiado limpo. Tomava três banhos por dia e limpava as mãos compulsivamente. Mas houve um dia em que deu um clique. Deixou de tomar banho.
Agora, a mulher quer se divorciar e até os filhos a apoiam tal deve ser o cheiro.
Vamos ver se a sharia apoia este pedido de negligência odorífica.

(Na realidade, a queixa da senhora é uma maneira subtil de indicar ao tribunal que o seu marido anda a desleixar-se nas questões religiosas. Os muçulmanos são obrigados a várias abluções rituais ao longo do dia e antes de entrarem numa mesquita.)
O Fait-Divers

Criança suspensa da escola por mãe se recusar a discipliná-la com pancada

Numa escola fundamentalista cristã americana, uma criança foi suspensa porque a mãe se recusou a discipliná-la fisicamente, depois de a isso ser intimada pelo director da escola.

Provérbios 23:13,14
13 Não retires da criança a disciplina; porque, fustigando-a tu com a vara, nem por isso morrerá.
14 Tu a fustigarás com a vara e livrarás a sua alma do Inferno.

O autor recomenda a experiência de serem espancados com fios eléctricos ao som de versículos bíblicos. É formador do carácter enquanto crianças e adolescentes. Produz ateus àcidos e sarcásticos como o autor.
O Fait-Divers

Concurso dinamarquês entre padeiros, para a criação de uma hóstia com novo sabor

Cansados do mesmo sabor de sempre das hóstias, as paróquias luteranas da ilha dinamarquesa de Funen resolveram abrir uma competição aos noventa padeiros da ilha, para arranjar um novo sabor e uma nova receita de hóstias.

Sugeria o sabor a galinha. Segundo o que para aí dizem é o que mais se aproxima…
O Fait-Divers

Um em cada dois russos acham que Estaline foi um líder sábio

Palavras para quê…
Quatro em cinco católicos também acham que qualquer papa é democrático…
O Fait-Divers

10 de Março, 2005 Mariana de Oliveira

Aquele dia

Comemorou-se, no passado dia oito, o Dia Internacional da Mulher. Noventa e cinco anos depois de ter sido proposto, por Clara Zetkin, na 2ª Conferência Internacional de Mulheres Socialistas, continuamos a ter uma data que nos lembra que ainda não atingimos a paridade.

As religiões têm muita responsabilidade nesta discriminação. E não precisamos de ir para um país islâmico ou do chamado terceiro mundo para ver como as mulheres são tratadas. Há uma semana passada, neste nosso país civilizado, vimos um padre a disparar contra quem usa métodos contraceptivos; às portas de Lisboa pratica-se a excisão do clitóris; o aborto continua a ser crime e toda uma estranha moralidade defende o modelo tradicional da família em que a mulher tem de cuidar é dos filhos e do marido.

O ideal seria não ter um dia para comemorar a mulher.