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O Reino Unido não é laico

A diferença fundamental entre a República francesa e o Reino Unido foi confirmada numa decisão judicial que reafirmou o direito de uma jovem de origem bangladeshi a usar o «jilbab», um manto que a cobre de tal forma que apenas as mãos e o rosto ficam a descoberto. De acordo com o acórdão judicial, «[o Reino Unido] não é um Estado laico (…) as escolas têm o dever de assegurar que os alunos tenham educação religiosa, e que cada aluno participe numa oração colectiva por dia, a menos que o encarregado de educação peça escusa». A não laicidade do Reino Unido e o carácter confessional das escolas britânicas são reafirmados várias vezes ao longo do acórdão judicial, com o objectivo de distanciar o ordenamento jurídico britânico daquele que vigora na Turquia, na Suíça ou na França.
Shabina Begum, hoje com 16 anos, fora excluída da sua escola em Setembro de 2002, quando após a menarca aparecera na escola não com o traje tradicional que usara até então e que cobre os cabelos (o que é aceite na sua escola) mas com um traje mais longo (o «jilbab»), que lhe permite disfarçar também as suas formas corporais. A directora da escola, sendo muçulmana numa escola de maioria (a 80%) muçulmana, temeu que o exemplo desta jovem pressionasse outras alunas a aderirem às versões mais integristas do Islão. Significativamente, o irmão de Shabina, que é um militante da organização de extrema direita «Hizb ut-Tahrir», parece ter tido um papel crucial quer na conversão de Shabina ao fundamentalismo quer no processo legal, para o qual recrutou a advogada Cherie Booth (a esposa de Tony Blair).
Conforme se torna cada vez mais claro, só a assunção clara da laicidade e do papel da escola não confessional na transmissão de valores republicanos como a igualdade de género e a mistura entre rapazes e raparigas poderá fazer frente à ofensiva dos extremistas islamistas. E, nesse aspecto, a França está melhor preparada do que o Reino Unido.