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O exorcismo

18 de Fevereiro de 2005  |  Escrito por Carlos Esperança  |  Publicado em Não categorizado  |  Comentar

Não foi a água benta, o sinal da cruz ou as orações que expulsaram o diabo do quotidiano. Foi a alfabetização, o progresso e os avanços científicos que o remeteram para espaços rurais remotos onde ainda estrebucha em competição com Deus. Aliás, Deus e o Diabo estão condenados a disputar o mesmo espaço e a competir nos mesmos clientes.
Cristo começou a actividade profissional no ramo dos milagres e na expulsão dos demónios que fazia afogar no Mar Morto transportados por porcos. Através dos séculos, o clero, além de outras actividades com que preencheu o vazio intelectual, nunca deixou de recorrer ao exorcismo como forma de purgar o corpo das maleitas da alma. O hissope e a cruz são os instrumentos de trabalho apoiados na água benta e no latim.

A falta de demónios levou os padres católicos a abandonarem a prática do exorcismo e, apenas, um ou dois por diocese possuem autorização episcopal para se dedicarem à actividade, que exige força, habilidade e muita fé. Segundo o padre Humberto Gama, experiente a enxotar Satanás de muitas almas atormentadas do distrito de Bragança, às vezes são precisas várias sessões para extirpar o Maligno, que se agarra à alma do paciente com o desespero de um sem-abrigo que não tem para onde ir.

O inferno foi abolido já no presente pontificado, embora sem efeitos retroactivos, não havendo habitat extraterreno para Satã se aplicar a empunhar o garfo de três dentes com que no catecismo da minha infância mergulhava as almas no azeite fervente. Mas, há tempos, talvez depois de a doença de Parkinson se agravar, JP2 anunciou, com espanto para muitos, que o diabo existia. De resto a Igreja Maná, a IURD e outras que se estabeleceram por conta própria, dedicaram-se à prática de milagres em directo na televisão e à prática do exorcismo com grande sucesso nos telespectadores e enorme benefício para os possessos, aliviados pelo saber e determinação dos clérigos.

É nesta fase do mercado da fé que a Universidade do Vaticano lança um curso de exorcismo. O curso, no «prestigiado Athenaeum Regina Apostolorum, terá a duração de dois meses e incluirá a história do Satanismo e o seu contexto na Bíblia, aulas de psicologia e direito e seminários sobre o trabalho espiritual, litúrgico e pastoral dos exorcistas».

Acautele-se o Demo. O curso tem o prestígio da instituição mais antiga e experiente no ramo e com maior credibilidade no mercado. As possessões estão condenadas graças aos exorcistas encartados pela Universidade. O Vaticano está para o Demo como a vacina esteve para varíola.

 

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