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O Baptismo

4 de Fevereiro de 2005  |  Escrito por Carlos Esperança  |  Publicado em Não categorizado  |  Comentar

Agarre-se uma inocente criancinha com dias ou poucas semanas de idade, vista-se de forma ridícula, leve-se à igreja e entregue-se ao eclesiástico. Ele fabricará um cristão. Havendo a água, sabidas as palavras que a seu tempo se dirão, estando disponível o padre, estão reunidos a matéria, a forma e o ministro, respectivamente, para impor o sinal eficaz da graça. O baptismo é a lixívia que lava a alma do pecado original e está para o cristão como a primeira prestação para a compra do automóvel. Começa-se por aí.

Antes das vitualhas os convidados assistem ao acto: mergulha-se a criancinha em direcção a uma pia e ela resiste e agarra-se desesperada ao algoz. Tem a sensação de que vai ser largada, grita e apanha com uma chapada de água na cabeça e uma pitada de sal nos lábios enquanto ensopa a fralda. Em surdina, abafado pelos gritos do neófito, o oficiante declara com o ar de enfado de quem passou a vida a fazer aquele número: «eu te baptizo em nome do Padre, e do Filho e do Espírito Santo» e devolve a encomenda a um dos padrinhos que, sentindo-a húmida, logo a larga no colo da mãe.

O padre, para justificar a propina, afiança que livrou do limbo o recém-nascido, que o fez cristão, isto é, discípulo de Jesus Cristo, filho de Deus e membro da Igreja, sítio onde é recomendável não regressar enquanto não controlar os esfíncteres e o choro. Quando a propina ameaça ser choruda, o oficiante explica ainda que o baptismo imprime na alma um carácter permanente, espécie de nódoa que resiste à benzina, pois o carácter é um sinal distintivo que nunca se apaga.

Os pais, embevecidos, repetem em uníssono: «já é cristão», acidente que a criancinha aceita com a mesma sofrida resignação que há-de reservar à varicela, ao sarampo e ao trasorelho. São doenças de crianças, normalmente benignas, não sendo o baptismo contagioso apesar do carácter endémico em certas zonas rurais.

O sacerdote que tem as habilitações canónicas para o difícil ofício baptismal aproveita para dar uma aula sobre o baptismo e dizer que, em caso de necessidade, qualquer pessoa baptizada, que tenha a intenção de fazer o que faz a Igreja, pode proceder ao baptismo, para que nenhuma criança morra sem o primeiro sacramento que lhe garante um entrada permanente no Paraíso até ao primeiro pecado.

 

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