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Não ao anti-semitismo

Mais de meio século decorrido, lembro-me do ódio das catequistas da minha infância. Recordo o horror e a sanha com que evocavam os judeus, que mataram «Nosso Senhor». Tenho presente o desvario boçal de quem julga com ignorância, condena com crueldade e exulta com as atrocidades.

Nessa altura, as crianças faziam a primeira comunhão vestidas de cruzados e o anti-semitismo devorava os corações de gente simples e analfabeta, submetida à fome, à miséria e à oração. Os demónios do anti-semitismo continuavam a habitar o catolicismo romano. Pio XII pontificava e a pusilanimidade do seu silêncio perante o Holocausto era compensada pela coragem com que denunciava a exiguidade dos trajos femininos.

Fez ontem sessenta anos que se abriram as portas do campo de morte de Auschwitz. A dimensão do ódio e da demência superaram a imaginação mais perversa. Treblinka e Auschwitz são nomes que arrepiam, lugares que envergonham a Humanidade, sítios que interpelam a consciência humana. Não podem ser esquecidos.

Pior do que o ódio para que os homens são aptos é a crueldade de que os deuses são capazes.

Em nome da vida, é preciso combater o racismo e a xenofobia, exorcizar o passado de violência, crueldade e morte que parece ressurgir diariamente. Em nome da memória é preciso prestar homenagem a seis milhões de judeus vítimas da mais ignóbil e feroz campanha de extermínio sistemático de que há registo.

O Diário Ateísta curva-se respeitosamente perante todos os homens e mulheres vítimas do ódio racial e da intolerância religiosa.