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Dia: 25 de Janeiro, 2005

25 de Janeiro, 2005 Carlos Esperança

A velha ICAR e a nova Espanha

A ICAR no seu labirinto

Hoje, os jornais europeus dão largo destaque às advertências, ameaças e acusações que João Paulo II fez ao legítimo Governo de Espanha, a tal ponto que a Associação de Teólogos João XXIII considerou as declarações papais como prova da sua falta de condições para dirigir a Igreja.

Autêntico talibã, o chefe da ICAR acusou a Espanha de promover o laicismo para «restringir a liberdade religiosa». Perante os bispos, durante a visita que cada cinco anos são obrigados a fazer-lhe, acusou: «O laicismo não faz parte da tradição espanhola mais nobre». De facto, a tradição autóctone está mais ligada às lutas contra os mouros, ao extermínio dos judeus, à evangelização da América do Sul e à inquisição. De facto, os reis católicos, que JP2 quis canonizar, destacaram-se pela beata crueldade e pia intolerância.


Compreende-se o desespero de JP2 cujas receitas americanas definham ao ritmo das indemnizações que as dioceses são obrigadas a pagar em virtude dos processos de pedofilia. Esta semana a revista «FOCUS», n.º 275, titulava à largura de duas páginas: «Pedofilia deixa Igreja americana falida». Também várias dioceses alemãs, desavindas com o vetusto e duro cardeal Joseph Ratzinger, reduziram os generosos óbolos que alimentavam a gula do Vaticano. É neste contexto que o Opus Dei se transformou no grande financiador, impondo posições ultramontanas, dignas do Concílio de Trento.

O Papa pretende manter a obrigatoriedade do ensino religioso nas escolas espanholas, uma prática que colide com a Constituição e a liberdade religiosa. Para o último ditador europeu, liberdade religiosa significa apenas o direito ao monopólio. O diário «El Correo Gallego», referindo-se às diatribes de Sua Santidade, titula o artigo: «Ataque fulminante do Papa à Espanha laica».

JP2, que perfilha as teses do ultra-reaccionário cardeal Rouco Varela, presidente do episcopado espanhol, acusa o Governo de «difundir uma mentalidade inspirada no laicismo até promover o desprezo para com a religião». Embora seja dito pelo Papa, falta à verdade – como assinala o «El Periódico» – pois, «nem a Constituição, que garante a liberdade de religião, nem os factos, suportam essa tese». A ICAR não suporta que se legalizem casamentos homossexuais, que se avance na investigação bio-ética ou se aconselhe o preservativo para a prevenção da SIDA, «uma patologia do espírito», como a definiu o Vaticano, prevenida pelo preservativo cuja rejeição moral é absoluta .

O próprio ministro Jose Bono teve de responder ao Papa lembrando que algumas posições da Igreja vão contra a mensagem de Cristo – afirma «El País».

O Vaticano tomou definitivamente partido pelo PP espanhol, dirigido até há pouco por Aznar cujas ligações ao Opus Dei eram do domínio público. Todavia, isso não impediu que, nos últimos quatro anos, passasse de 29% para 14,2% a frequência da missa por jovens entre 15 e 29 anos que se intitulam católicos – como informa hoje o «Público», que termina com este compromisso de José Blanco, influente dirigente do PSOE: «Está excluída qualquer doutrina religiosa como fonte inspiradora do ordenamento jurídico, pois não se pode exigir que as normas jurídicas, que a todos obrigam, sejam ditadas por princípios religiosos que apenas vinculam quem os professa».

25 de Janeiro, 2005 Carlos Esperança

João Paulo II, um Papa obsoleto

Juan G. Atienza acusa a Igreja de, com a colaboração do Opus Dei, tentar criar o governo teocrático universal sonhado por Paulo. A sua aberta aliança com a Mafia internacional e a pseudo-maçonaria financeira bem como o abuso indiscriminado do negócio milagreiro (Lourdes, Fátima, La Salette, Chestojowa, o sangue de S. Pantaleão, os milagres do padre Pio, etc., são outras acusações que o mesmo autor lhe faz e de que todas as pessoas se podem dar conta*.

Em «Os pecados da Igreja» o Opus Dei aparece como o instrumento do confronto final entre o cristianismo e o islão fundamentalista.

Quem pensa que o estado-maior da ICAR esquece a guerra santa, quem julga que sob as sotainas se escondem apenas desejos reprimidos e votos de castidade, ignora o potencial de violência de que a fé, a repressão sexual e o desejo de martírio são capazes.

Na recente carta apostólica sobre o Ano da Eucaristia, João Paulo II concede uma indulgência plenária aos católicos que «participem numa missa, adoração eucarística ou procissão». Enganam-se os que pensam que a Igreja mudou. Até na promoção dos produtos repete os bónus que levaram à ruptura com Lutero.

Graças ao fabrico de beatos e santos em série, com este Papa a ICAR passou da época artesanal para a era industrial.

Quem acredita na conversão da Igreja católica à modernidade?

* «Los Pecados de la Iglesia». Pgs. 341 e 342. Ob. Citada