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O Patriarca de Lisboa e o Vaticano

A diocese de Lisboa é, pelo número de habitantes e pela sua importância política, a principal filial do Vaticano em Portugal, conferindo ao seu titular o título de «Cardeal», cujo barrete é concedido no primeiro consistório a ter lugar após a nomeação para o cargo. O actual feitor, José Policarpo, é um bispo inteligente e bem preparado que, segundo o último «EXPRESSO», terá sido indigitado para integrar o governo central da ICAR, com sede no Vaticano. Fala-se mesmo na possibilidade de suceder a Karol Vojtyla, conhecido pelo pseudónimo de João Paulo II, cujo prazo de validade se aproxima do fim.

A forma como se organiza o único Estado totalitário da Europa é um assunto de reduzida relevância para o ateísmo, mas o modo como parasita os países que procura reduzir à condição de protectorados é um problema de cidadania que, no caso de Portugal, interessa aos portugueses. A suspeita de que a carreira profissional do patriarca Policarpo possa ter sido feita à custa da capitulação do Estado português perante o Estado do Vaticano é uma probabilidade a merecer profunda reflexão e repúdio.

No mesmo número do EXPRESSO (site indisponível) lê-se que no art. 23.º da Concordata ficou acordado a criação de uma comissão bilateral que compromete o Governo português a «proceder às acções necessárias para a identificação, conservação, segurança, restauro e funcionamento» dos bens culturais da Igreja, «em igualdade de oportunidade com os bens do Estado». Ou seja, o Governo português converte-se na companhia de seguros que cobre os riscos do património imobiliário da ICAR, à custa do erário público.

Não sabemos se há algum pacto secreto em que a ICAR se compromete a proceder às anunciadas beatificações e canonizações de defuntos autóctones, prescindindo dos dispendiosos emolumentos que costuma cobrar. De qualquer modo, os privilégios de que goza a ICAR são indignos de um Estado laico, vergonhosos para quem capitulou perante um Estado estrangeiro – o Vaticano -, escandalosos para quem os reivindicou e aceita.

Todas as Igrejas estão no direito de exigir tratamento igual e a futura Associação Ateísta Portuguesa não deixará de o fazer em relação à sua sede e em apoio das outras religiões.