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O cristianismo odeia a ciência

Nos EUA alguns estados conseguiram a proibição do ensino da teoria da evolução se, ao mesmo tempo, não for ensinado o criacionismo bíblico. E o movimento criacionista alastra como mancha de óleo a conspurcar o tecido científico de um país que tem uma constituição laica. Nas escolas do Estado do Kansas já desapareceram todas as referências às teorias de Darwin e do Big Bang. A lepra do obscurantismo já atravessou o Atlântico e contaminou a Europa. A ministra da Educação da Sérvia ordenou que o ensino da teoria da evolução só pode ser abordada se, entretanto, for descrita a história da vida segundo a bíblia. Esta orientação alargada à geografia só permitirá ensinar o movimento de translação da Terra se, ao mesmo tempo for abordada a deslocação do Sol à volta da Terra.

Alguém vê um bispo a condenar a ignóbil decisão desses beatos analfabetos, o Papa a execrar tal cabotinismo, a Cúria romana a manifestar-se contra a infâmia?

Os milagres fabricados pelo Vaticano são pueris. Constituem um ultraje à inteligência, um recurso à mentira e à superstição, uma vergonha para a humanidade e o ridículo para os fiéis. Já algum dignitário se mostrou constrangido, algum clérigo reclamou, um só crente se atreveu a desmascarar a trapaça?

A fé é incompatível com a ciência mas escusava de ser tão avessa à verdade.

Já se fazem milagres pela televisão, tal como se transmitem bênçãos apostólicas, se apela ao óbolo que alimenta a indústria da fé, a troco da bem-aventurança eterna que se promete pela mesma via. Lenta e seguramente resvalamos para o obscurantismo mais torpe conduzidos pelo clero mais ignaro e o beatério mais lorpa, através dos mais avançados meios de comunicação.

Não é uma nova Renascença que chega, é a Idade Média que regressa. Sob os escombros do Vaticano II a ICAR traz de volta o concílio de Trento. O obscurantismo deixou e ser monopólio do islão e do judaísmo ortodoxo e voltou a ser um objectivo do cristianismo.

Quando julgávamos Deus um mero objecto de estudos mitológicos e de adorações residuais, eis que aparece o cadáver a agredir a pituitária das pessoas de mente sã. Da lixeira da história, de entre os resíduos tóxicos, foi exumado por sicários para ser exibido nas escolas, mostrado nas universidades e servir de ameaça à investigação e à ciência. Deus nunca foi uma farol que iluminasse o progresso mas espero que, mesmo agora, não passe do fogo-fátuo de um corpo putrefacto enquanto o mundo gira e avança indiferente ao cheiro.