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Bispos e liberdade

Um artigo recente da Mariana Pereira da Costa refere os ataques do arcebispo de Pamplona, D. Fernando Sebastián, ao processo de laicização em curso, em Espanha.

O dever cívico e político de conceder a cada espanhol o direito de ter qualquer religião ou de não ter, provoca o azedume do arcebispo que duvida da modernidade da laicidade. A atitude não mereceria atenção se o arcebispo Fernando Sebastián fosse um mero epifenómeno de uma Igreja convertida à democracia, mas, desgraçadamente, é um bispo típico da ICAR espanhola, que apoiou com entusiasmo o franquismo e os seus crimes e não se resigna à perda de privilégios.

Afirmar que «a legislação deve conter referências a Deus e à lei divina» é um desafio ao Estado, que legitimamente devia exigir à «lei divina» referências aos direitos do Homem. Mas a «lei divina» ignora a liberdade e os seus intérpretes odeiam-na.

A tolerância não é apanágio de nenhuma religião, nem os livros sagrados (Tora, Bíblia, Corão) consentem o pluralismo, aceitam os direitos do Homem ou permitem o livre pensamento. Não se encontra em qualquer deles a mínima referência ou, sequer, complacência para com a liberdade ou o exercício de quaisquer direitos cívicos. A igualdade entre o homem e a mulher, o direito de voto, a liberdade de renunciar a uma religião para aderir a outra ou de se libertar da fé, são direitos que não se adquirem com a ajuda das religiões mas contra elas.

A democracia é a forma de Governo conseguida a partir da separação da Igreja e do Estado, execrada por clérigos de todas as religiões, abominada pelos papas, odiada por crentes, combatidas pelos que exigem sobrepor a vontade de Deus à dos homens. Nenhum livro sagrado expurgou os interditos que envergonham as sociedades modernas e tornam os homens e as mulheres infelizes. Malditos livros.