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Da ICAR e da polis, I : O legado de Constantino

«Uma religião que declarasse levianamente [unbedenklich: de maneira leviana, sem reflexão] guerra à razão não resistiria muito tempo» A religião nos limites da pura razão, Immanuel Kant

A Igreja Católica que hoje conhecemos surgiu pela mão de Constantino numa tentativa de unir pela religião um Império Romano em decadência. Em que todos os créus, pela autoridade divina do braço religioso do Império, a Igreja de Roma, seriam compelidos a lutar pelo Império e espalhar a fé. Ou seja, é desde o Concílio de Niceia uma igreja política e assim permanece até hoje.

À época de Constantino o Império Romano tinha sido desmembrado por Diocleciano, na corte de quem este passou a juventude. O pai de Constantino, Constâncio Cloro era membro da tetrarquia criada pelo imperador (que incluía ainda Maxêncio, Maximino e Licínio). Depois da morte de Constâncio, as legiões comandadas por Constantino aclamaram-no imperador. Em Roma, o título de Constantino não foi reconhecido e após a morte de Galério (310) surgiram novos pretendentes ao império. Aliando-se a Licínio, derrotou Maxêncio e Maximino e dividiu com o primeiro o império. Para garantir a estabilidade do Império publicou em 313, conjuntamente com Lícinio, Imperador do Oriente, o Édito de Milão em que é garantida a liberdade de culto aos cristãos.

Mas o livre culto religioso estendido aos cristãos não era suficiente para cumprir o sonho de Constantino: um retorno da unidade, hegemonia e glórias passadas de um Império Romano em convulsão. Até porque os supostamente perseguidos cristãos se revelaram perseguidores de pagãos e daí nasceram novas desordens. Além disso não se alistavam no exército renascido de que Constantino precisava (e ver-se livre de Licínio, claro, mas isso esperou uns anitos).

Era necessária uma religião suficientemente forte para se impor aos povos dominados por Roma; para consolidar na crendice indissociável dos povos da época o poder conquistado pela força. Uma religião autoritária, rígida, inflexível, estabelecida mediante poderes, leis e morais terrenas. Assim começou o Catolicismo: um expediente político para tornar a Religião Imperial Católica Apostólica Romana a Toda Poderosa, nominalmente predicando o perdão mas de facto imposta e sustentada pela força da espada.