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Dia: 24 de Julho, 2004

24 de Julho, 2004 Carlos Esperança

Chantagem episcopal em Espanha

O prestígio divino continua em queda desde o fim da ditadura. O apoio da ICAR à repressão franquista e a promoção do ditador como enviado da Providência, causou-lhe sérios embaraços, mas manteve-lhe intactos os privilégios.

Assim, enquanto Deus se transforma num mero instrumento para convencer as crianças a comer a sopa e a tirar o dedo do nariz, os numerosos bispos e cardeais que assolam a Espanha não prescindem da ameaça, intimidação e chantagem sobre o Governo, para perpetuarem o poder. Contam com um poderoso exército de padres distribuídos por paróquias e milhares de sequestrados, monges e freiras, embrutecidos pela clausura, prontos a serem largados em procissões de desagravo, a abanar terços e recitar ladainhas.

A anunciada legalização de uniões homossexuais pelo Governo legítimo de Espanha (a ICAR dá-se mal com a democracia) encontra uma feroz oposição no episcopado como já aqui foi referido pela Mariana.

O presidente do sindicato dos bispos [Conferência Episcopal Espanhola (CEE)], cardeal António Maria Rouco, declarou, em nome da CEE, «apóstatas» todas as pessoas que concordem com a legalização das uniões de facto entre homossexuais.

É a primeira vez, depois do concílio Vaticano II, que um dignitário da ICAR assume para um grupo social tal classificação, que expulsa os visados da ICAR.

É uma catástrofe para fregueses das missas, avençados da eucaristia, amantes das peregrinações e das procissões ou simples devotos das jaculatórias e outros divertimentos litúrgicos, incluindo os sacramentos.

Calcule-se o efeito devastador nas zonas rurais, beatas e analfabetas com a denúncia dos apóstatas, perante o eterno silêncio de Deus e o insuportável ruído do clero.

post scriptum – Sobre os crimes sexuais do clero católico em Espanha (só os crimes julgados e cujas sentenças transitaram em julgado) vale a pena ler «A Vida Sexual do Clero», de Pepe Rodríguez, Publicações Dom Quixote, 1.ª edição: Julho de 1996.

24 de Julho, 2004 Ricardo Alves

Preso por defender a liberdade de pensamento

O Supremo Tribunal de Teerão decidiu que Sayyed Hashem Aghajari continuará na prisão pelo crime de blasfémia, mas reduziu a sua pena a cinco anos de prisão. Deve notar-se que este professor de História iraniano fora condenado à morte por, durante um discurso público, se ter afirmado favorável a um «Islão reformado», moderno, em que os muçulmanos não seguissem os líderes religiosos «cegamente» e «como macacos», e em que cada um pudesse encontrar a sua própria interpretação dos textos «sagrados». Em suma, foi condenado por defender a liberdade de pensamento.

Embora Aghajari não se tenha afirmado ateu, o seu discurso de Junho de 2001 fora suficiente para que um juiz de província o condenasse à morte por apostasia em Novembro de 2002. Aghajari tem portanto estado preso desde 8 de Agosto de 2001, por vezes em regime de isolamento, e sob ameaça de execução. A sua pena foi agora reduzida a cinco anos de prisão (dois dos quais de pena suspensa). O advogado de Aghajari espera conseguir ainda mais uma redução da pena, após novo apelo. O caso Aghajari tem causado protestos consideráveis entre os estudantes iranianos reformistas. 




A liberdade de expressão é um direito humano fundamental, e inclui a possibilidade de criticar as religiões, até mesmo de as ridicularizar. Na privacidade dos nossos pensamentos, somos sempre livres. É na consciência dos indivíduos que os dogmas religiosos caem sempre pela primeira vez. Poder exprimir o nosso pensamento é um direito político, que os clericais sempre tentaram limitar, através de leis contra a blasfémia, e em nome de interditos religiosos por eles definidos.

As democracias afirmaram-se, na Europa, contra as igrejas. Os países muçulmanos necessitam de uma laicização radical e urgente. Homens como Aghajari são indispensáveis.