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Milagres originais são cada vez mais raros

A rainha Santa Isabel, mulher de D. Dinis, apesar de nascida em terras de Espanha, é sobrinha da também Isabel (e igualmente rainha) da Hungria, santa muito antes dela e provável pioneira do bonito milagre que a sobrinha obrou (transformar pão em rosas) – lê-se no Diário de Notícias de hoje.

Talvez ignorasse o pio edil de Coimbra, Dr. Carlos Encarnação, o plágio do milagre quando atribuiu à ponte Europa o nome da rainha que se limitou a fazer um truque de família. De qualquer modo um milagre assim produz sempre belos efeitos e justifica uma canonização.

Os mais atentos sabem que os milagres são geralmente plagiados. As Senhoras chorosas, por exemplo, começaram por ser uma especialidade italiana que se adaptou bem nos países onde a ICAR se expandiu, quiçá, desiludidas com as pessoas que dormem de costas, quando deviam dormir de lado para não acicatar a luxúria que, como é sabido, é obra do demo e conduz à perdição da alma.

Hoje poucos as levam a sério, apesar de terem variado as lágrimas da cera ao óleo de lubrificação automóvel, do sangue de pomba ao de origem desconhecida.

O santo prepúcio, produto da circuncisão de Jesus Cristo ao 8.º dia, segundo a lei, que a velha judia que praticou a operação guardou num vaso de alabastro, em óleo de nardo, fez excelentes milagres durante séculos. Foi das relíquias mais prestigiadas e promotora de grandes devoções. Um dia veio a ser declarado falso e impróprio para novos milagres porque enquanto uns exegetas admitiam que JC ressuscitou com outro, naturalmente ressarcido pela alimentação, ganharam os que entenderam que ressuscitou com o prepúcio original.

Conclusão: Não há prepúcio que resista nas mãos do clero e as relíquias e os milagres têm prazos de validade.