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Paulo Portas – beato e reaccionário

Ciclicamente a descolonização regressa à actualidade. Reaparece a cumprir a função de dividir os portugueses, quando parece esquecida, pela mão dos que deviam calar-se. Recordam-na os que nunca aceitariam qualquer outra como boa e o problema reside mais na sua própria derrota perante a história.

Paulo Portas (PP) tem uma grave dificuldade. Ou diz o que pensa e cria problemas ao governo ou diz o que deve e cria perplexidade no partido.

Sendo estreita a margem em que pode mover-se aconselharia a prudência o silêncio, mas impõe-lhe o feitio o ruído.

Acossado por Mário Soares que gosta de apontar os desmandos reaccionários ao antigo aluno dos jesuítas, atira-se contra a descolonização e, em vez de ferir o Dr. Soares, que tem a pele dura, ofende centenas de milhar de portugueses. Aos retornados acorda-lhes o ressentimento de quem perdeu haveres e alterou o rumo das suas vidas, aos ex-militares impede-os de fazerem a catarse dos anos, longos e dolorosos, da guerra colonial.

Assim, PP, para manter a fé dos que o elegeram, vai sistematicamente à procura de um passado que nada tem de glorioso e, muito menos, de recomendável.

Persiste em Portugal uma direita que, se pudesse arrancar Abril do calendário e suprimir o dia 25 aos meses, continuaria fora da Europa, orgulhosamente só, aliviada de carregar a vergonha do passado, feliz por poder reeditá-lo. É essa direita cuja liderança PP disputa com Manuel Monteiro, direita que nunca ficará satisfeita, que cria instabilidade no aparelho de Estado e no país.

No intervalo de muitas missas e outras tantas hóstias o pensamento desta gente é sempre execrável – na descolonização, no aborto, na imigração. Durante a liturgia ainda há-de ser pior.