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Missa da Abertura do Ano Judicial

A MISSA de abertura do ano judicial em 20 do corrente mês (ver Público) é uma notícia que faz de Portugal um país exótico, a grande distância dos países atrasados.

Com efeito, as demoras dos processos, as dificuldades de investigação e as arreliadoras prescrições justificavam medidas vigorosas. A ministra Celeste Cardona, amiga do peito e da missa de Paulo Portas, não poupa nos investimentos.

Num país obsoleto certamente tentaria um feitiço, aqui opta por uma missa. Nas tribos ancestrais o feiticeiro é recebido com pompa e circunstância, Portugal reserva essa atitude para o cardeal patriarca que, em vez de fumo recorre ao incenso, em vez do fogo atira-se à homilia.

Claro que é uma vergonha para um país oficialmente laico, onde nem todos os governantes sabem que é e alguns se esforçam para que deixe de sê-lo; claro que não está provada a eficácia da missa no bom andamento da justiça nem a bondade da homilia no discernimento dos agentes judiciários; claro que a água benta não se distingue da outra.

Mas perante o despautério pode estar em curso uma tentativa para introduzir como medida de coacção a apresentação semanal à missa e, em casos mais gravosos, a presença diária no terço.

Como crimes sujeitos a prisão maior podem introduzir-se o divórcio, o adultério, a apostasia, a blasfémia e outros. O terço e o mês de Maria podem vir a fazer parte das medidas punitivas.

Já estamos a ver um advogado a pedir redução de pena para um estuprador em duas novenas e vinte ave-marias.

À ministra Cardona não devem faltar devotos nem poetas a querer dedicar-lhe uma elegia. Há-de demovê-los o receio de encontrar uma rima adequada. Mas os cidadãos gostariam de vê-la excomungada no Governo.