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Dia: 29 de Setembro, 2020

29 de Setembro, 2020 Carlos Esperança

Fátima SARL

Por

ONOFRE VARELA

O santuário de Fátima é uma empresa que conta com 308 trabalhadores assalariados. Cada um deles recebeu, recentemente, uma carta da entidade patronal (a Associação Empresarial Ourém-Fátima) no sentido de “reflectirem sobre a sua situação laboral”, o que é um modo de dizer: “vamos despedir parte de vós. Proponham um modo de se desvincularem da empresa, a partir do qual negociaremos o vosso despedimento”.
A causa do despedimento de, em princípio, cerca de 50 funcionários, está ligada à quebra de receitas da actividade comercial daquela empresa que vende fé, milagres, orações e esperança. Tem havido poucos compradores. A clientela fugiu do recinto/loja como o diabo da cruz, por via do medo ao vírus assassino que não quer saber se por ali há milagres ou a diabices.

Este tempo de pandemia que deveria ser, penso eu, a melhor forma que a senhora de Fátima teria de dizer que ali é que se está bem… ela, a senhora, distraiu-se e não fez o milagre de exterminar o vírus, evitando contágios no seu recinto sagrado! A não fazê-lo… para que serve ela, se nem consegue reabastecer os seus cofres em tempo de peregrinação?!…

No Brasil, os acarneirados na seita IURD, garantem que nas suas reuniões a abarrotar de gente sem máscara, não há Covid que penetre!… São bem mais estúpidos do que quaisquer outros crentes, incluindo os crentes no Bolsonaro, mais os crentes americanos que procedem do mesmo modo nos comícios de Trump. O resultado vê-se: Brasil e EUA são os dois países com mais mortes por Covid. Se a senhora de Fátima livrasse os peregrinos do vírus, a sua credibilidade seria exponencialmente ampliada e, em vez de despedimentos, a empresa Fátima SARL admitiria mais funcionários. Mas parece que não!… Parece que não há tanta gente a acreditar em milagres como antigamente. Já não os encomendam como encomendavam, e a produção tem baixado consideravelmente.

Quando a fé está em crise, isso quer dizer o quê? Que os crentes o são cada vez menos? Que o governo resolve os problemas dos cidadãos retirando-lhes a necessidade de recorrerem à fé como sedativo para viverem? (Isso é que era bom!…). Ou é apenas um fenómeno de menor procura pelos turistas que alimentavam o turismo religioso, por via do medo ao Codivirus? Acredito mais nesta última hipótese. Passado o medo ao vírus, o recinto de Fátima encher-se-à como antigamente, como, aliás, já aconteceu recentemente, obrigando o santuário a impedir mais entradas no campo da fé. O que esta crise mostra, claramente, é o facto de a Igreja não ser mais do que uma empresa capitalista com os mesmos problemas económicos de qualquer empreendimento empresarial. Está sujeita aos lucros da venda de fé, que é o material que tem para vender… e se os compradores não aparecem, o negócio fica arruinado e os trabalhadores são despedidos. Esta realidade deveria servir para os crentes mais empedernidos tomarem consciência do logro que Fátima é.

A “pureza religiosa” não existe quando o interesse é o negócio. Desde 2005 que o santuário não torna as suas contas públicas. Mas sabe-se que em 2002 teve um saldo positivo de 7,1 milhões de euros, valor que correspondia a um aumento de 47% relativamente ao ano de 2000. O dinheiro que os pobres peregrinos metem nos cofres da Igreja é um segredo bem guardado… será o quarto segredo de Fátima! Esta notícia, para uma população esclarecida, seria suficiente para elucidar os peregrinos. Mas não é!…

Se os peregrinos fossem elucidados… não seriam peregrinos (pelo menos não o seriam com o mesmo espírito dos de Fátima-empresarial-e-milagreira).

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico) OV