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Dia: 1 de Outubro, 2018

1 de Outubro, 2018 Carlos Esperança

Gazeta Ateísta

Por

Onofre Varela

IGREJA E SEXO CRIMINOSO (e Fim)

A grande Era das Trevas ditada pela Igreja Católica durante 350 anos, do fim do papado de Hormisdas (ano 523) até ao fim do papado de Adriano II (ano 872), contabilizou quatro séculos em que a prepotência da Igreja explorou e aterrorizou os povos da Europa, enquanto no seu seio reinava a malfeitoria, a devassa, a pornografia e o crime de sangue. A maioria dos papas desse período cometeu todo o tipo de crimes, e na lista dos 56 papas que reinaram nesse espaço de tempo, 23 foram considerados santos. 

Alguns deles têm histórias tenebrosas de prepotência, intriga, tortura, luxúria, pederastia, violações e abusos sexuais de toda a espécie, inclusive com animais. Houve papas que sodomizavam criados, sacerdotes e fiéis que depois mandavam torturar e matar. Outros papas foram assassinados pelas vítimas, pelos clérigos que os queriam destronar para lhes sucederem, e pelos maridos das suas amantes. 

Os males promovidos por papas não terminaram no ano 872… continuaram muito para além dele! O escritor italiano Eric Fratini, no livro Os Papas e o Sexo – Ficheiros Secretos do Vaticano (Bertrand, 2010), e a escritora inglesa Brenda Ralph Lewis, no livro A História Negra dos Papas – Perversões, Assassínios e Corrupção no Vaticano(Leya/Oficina do Livro, 2012), fazem um retrato tenebroso da Igreja através dos tempos. 

E houve uma época em que o papado foi, literalmente, governado pelas amantes dos papas, que foram quatro mulheres poderosas: Teodora A Maior, esposa do também poderoso cônsul e senador romano Teofilacto I; a filha de ambos Teodora A Jovem; mais Marozia, filha de Teodora A Maior e do papa João X; e ainda Sérgia, filha da mesma mãe e do papa Sérgio III. Todas foram amantes de papas num total de 12, desde o ano 904 até 963 quando morreu o papa João XII, neto de Marozia. Uma dúzia de papas submetidos à fome de poder de quatro mulheres que seduziam pela palavra, pela beleza e pelo bom desempenho na cama. De entre todas elas foi Marozia quem, com os sábios conselhos da sua mãe que era mestra pornógrafa, se tornou, com o passar dos anos, a grande governanta e senhora de Roma e da cátedra de S. Pedro. Teodora foi descrita como uma rameira desavergonhada, e as filhas conseguiram fama idêntica. Os papas sucediam-se, e aquelas mulheres ficavam como concubinas. O verdadeiro poder da Igreja estava na mão destas quatro prostitutas clericais. 

O bispo e cronista do século X, Liutprand de Cremona, opunha-se à passividade dos papas e escreveu sobre eles: “Caçavam com cavalos com arreios de ouro, organizavam banquetes opulentos com dançarinas no fim das caçadas e retiravam-se com as suas prostitutas para leitos com lençóis de seda e cobertas bordadas a ouro. Todos os bispos romanos eram casados e as suas mulheres faziam vestidos de seda das vestes sagradas”. 

Por tudo isto, quem defende incondicionalmente a “santidade dos clérigos”, convém não esquecer a História, nem a condição animal dos homens que, efectivamente, são os papas, os cardeais, os bispos, os padres, os laicos… eu… e você, leitor. 

(Onofre Varela in Gazeta de Paços de Ferreira, edição de 4 de Outubro de 2018)