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A Minha Confissão

Meus amigos: eu, ex-ateu me confesso. Depois de ter passado a fase católica, a que se seguiu a fase ateísta, eis que senti o chamamento de um deus, não aquele que, em tempos, venerei e temi, mas um outro que decidi inventar, quanto mais não seja porque não me sinto inferior aos outros. Também tenho o direito de inventar um deus. Em resumo, decidi passar a venerar o Pacote de Leite, e o Seu Divino Filho, o Iogurte. Podem chamar-me os nomes que quiserem, inclusivamente podem berrar que o Pacote de Leite é tão inútil como o Deus dos católicos, mas estou-me borrifando.
Todos os dias, ao acordar, elevo a minha prece de agradecimento ao Pacote de Leite, agradecendo a graça de estar vivo. Logo a seguir, impetro o Sagrado Iogurte, a quem peço protecção para o dia que começa. E deixem-me que lhes diga que, até ao momento, me tenho sentido bem, aliás, tão bem como quando era católico ou ateu, mas isso não interessa nada. Peço, também, que o Pacote de Leite promova a paz na Terra e a compreensão entre os Homens. Bom, aí, não tenho visto grandes progressos, mas a verdade é que o Deus dos católicos também não tem mostrado obra. Finalmente, e embora a sós, celebro a Sagrada Eucaristia, que consiste em beber um copo do líquido e, a meio da manhã, comer o corpo de Cristo, perdão, o Sagrado Iogurte, o que faço com veneração. Amém.

Ainda há dias, fiquei fortemente constipado. Pois bem, garanto-vos que foi o meu Pacote de Leite que me aliviou. Bem quente e com uma boa colher de mel. Mas não só: todos os dias peço ao meu Pacote de Leite que me proteja de ser atropelado. Meus amigos, querem crer que ainda não o fui? Atropelado, quero dizer. Quanto a acidentes de automóvel, também estou protegido: trago pendurado, no espelho retrovisor, uma embalagem mini de leite.
As diferenças, as grandes diferenças entre este Deus e o dos católicos são duas, fundamentais: a primeira, é que o meu vê-se e sente-se; a segunda, é o aporte de cálcio. O Deus dos católicos dá?