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Dia: 29 de Dezembro, 2015

29 de Dezembro, 2015 Carlos Esperança

Deus no Expresso Revista

Por
Dieter Dellinger

O Senhor José Tolentino de Mendonça escreve excelentes artigos que os leio sempre para pensar. A 19 de Dezembro o Expresso publicou um artigo em que Tolentino escreve sobre o teólogo alemão Dietrich Bohnhoffer. Faltou-lhe dar a conhecer ao público algo mais do pensamento do corajoso teólogo alemão, mas eu, na minha qualidade de ateu, não me atrevia a contestar um crente. Nós, os ateus, somos silenciosos e respeitadores com todos os crentes, pelo que não nos passaria pela cabeça discutir com um hindu o caráter sagrado da vaca ou com um muçulmano o significado da pedra negra de Meca e com um católico a aparição da Virgem em Fátima ou com um jihadistas a realidade das 300 virgens que o esperam no paraíso depois de se fazer explodir, assassinando um monte de gente desconhecida.

O senhor Tolentino escreveu no último número da revista do Expresso um artigo a pugnar pelo diálogo entre crentes e ateus e, por isso, aceitei o repto.

Muitos alemães estudam teologia não catequista nas universidades na esperança de encontrarem Deus como Max Plank descobriu a física quântica, Einstein a relatividade e Heisenberg o princípio da incerteza. Quase tudo elaborado na teoria e depois comprovado em complicadas experiências.

Dietrich Bohnhoffer fez uma interpretação não religiosa da Fé, coisa que eu não faço por não ter fé em nada ao escrever: “O Mundo tornou-se adulto e mostrou ser capaz de viver sem religião. A tentativa frequentemente empreendida pela apologética religiosa de o reconduzir à dependência de crenças das quais já se libertou, parece-se com a tentativa de reconduzir à puberdade um indivíduo que é já um homem”.

“Quer isto dizer – continua Bohnhoffer – que o espaço a atribuir a Deus não está nos confins do conhecimento ou da existência dos humanos, nem para além dos limites da fraqueza, da morte e da culpa do homem, mas sim no centro do homem e do seu mundo”, o que nos leva ao pensamento de Ratzinger que afirmava ser Deus identificado pela razão humana, o que muda radicalmente o problema da fé.

“Deus não pertence à esfera do transcendente ou do sobrenatural mas sim à esfera da natureza, entendida para além do vitalismo e do mecanicismo como uma forma de vida que Deus conservou no Mundo caído, dirigindo-a para a renovação por meio de Cristo”, o que mostra no pensador alemão um certo panteísmo como unidade de Deus e do Mundo, o qual será o quê? Obra do “big bang” ou do divino? Para Bohnhoffer como para Ratzinger a “razão é ela própria uma forma de vida querida e conservada por Deus”. A razão no pior e no melhor sentido, acrescento eu, razão do nazismo ou jihadismo ou da Madre Teresa, cujo milagre é a sua própria vida a favor dos mais pobres dos pobres.

Deus é pois produto da razão, uma invenção do espírito humano como também se deduz da “História Geral de Deus” de Gerald Messadié.

Diário de uns Ateus – As posições dos ateus não são dogmáticas. Cada ateu tem o seu ponto de vista.