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Dia: 30 de Junho, 2013

30 de Junho, 2013 José Moreira

No lugar dele…

No lugar dele, eu arranjava alguém que me provasse a comida imediatamente antes de ela entrar na minha boca. Na minha presença, claro.

No lugar dele,Scan-130630-0001 dormia com a luz acesa e só fechava um olho de cada vez.

No lugar dele, nem em Deus confiava.

No lugar dele, mandava reforçar os vidros anti-bala do papamóvel.

No lugar dele, contratava mais guarda-costas que os governantes de Portugal.

No lugar dele, eu teria medo; muito medo.

No lugar dele, eu não me atreveria a agitar um saco de víboras.

No lugar do papa Francisco, eu deixaria tudo como está. Mas passaria cá para fora a mensagem de que iria limpar o Vaticano.

 

30 de Junho, 2013 José Moreira

A morte de Deus

É lugar-comum dizer-se que a cada passo que a ciência avança Deus morre mais um pouco, e esta frase cito-a de memória, que não é muita. Poder-se-á perguntar por que demónios Deus demora tanto tempo a morrer, e eu respondo que a ciência ainda não parou de avançar; por outro lado, um mito que demorou tantos anos a ser criado é natural que demore ainda mais tempo a morrer. Acontece, porém, que, por um qualquer lampejo de lucidez, os próprios católicos se vão encarregando de apressar a morte do “velhote” .Laicismo Assim, e a título de exemplo, a malta escuteira da Grã-Bretanha, designadamente a feminina, vai deixar de prometer cumprir com o seu “dever perante Deus e o rei”, neste caso a rainha; preferem, em alternativa, servir a rainha e a comunidade, embora me cause engulhos esta história de “servir”, seja o rei ou rainha que seja. Embora a “promessa” dos escuteiros portugueses também não seja flor de se cheirar… Mas isso é outra conversa.

O insuspeito cónego Rui Osório, escriba do diário de inspiração católica “Jornal de Notícias”, chama-lhe “Eclipse de Deus”. Delicioso eufemismo de quem, naturalmente, não aceita a morte do patrão.

Mas eu tenho outra opinião. Estou convencido, mas isto são convicções minhas, de que as raparigas acabaram por ler a Bíblia com deve ser, e se fartaram de ser a causa das desgraças que, aqui e ali, vão acontecendo por esse mundo fora – a começar pelo cómico “pecado original”.

Mas que o velhote vai definhando, não tenhamos dúvidas.

30 de Junho, 2013 David Ferreira

Hóstia dominical – II

Quando conseguires convencer um grupo de pessoas a acreditarem nas tuas
próprias convicções, por muito absurdas que elas sejam; quando conseguires
moldar esse grupo de pessoas na forja da veracidade soberana e necessária das
tuas próprias ilusões, escudando-as à curiosidade investigativa do espírito
crítico congénito; quando conseguires que essas pessoas interiorizem
maquinalmente a tua visão da realidade a tal ponto que a encarnem compulsivamente
no cárcere que se vão fazendo aos poucos; quando sequestrares o
pensamento individual dos elementos desse grupo de uma forma tão eficaz que os
leve a entoar e a disseminar em uníssono os teus desejos, o teu querer e a tua
verdade mais apaixonadamente que tu próprio; e, sobretudo, quando conseguires
persuadir essa massa de gente informe de que apenas com os olhos fechados e os
sentidos adormecidos poderão ver melhor e sentir mais- terás então concebido não
só a mais perfeita das mentiras, mas também o mais perfeito sistema de controlo
e manipulação do teu semelhante.

 

30 de Junho, 2013 Carlos Esperança

Um católico à solta

Tribunal de Contas chama a atenção ao facto de estes subsídios não terem sido publicitados no Jornal Oficial da Região. O relatório do TC foi enviado para o Ministério Público tendo sido detetadas infrações financeiras.

O volume financeiro de seis contratos-programa de cooperação financeira celebrados entre o governo regional da Madeira e as Fábricas Paroquiais (instituições sem fins lucrativos) no âmbito da construção ou conservação do património religioso, atingiu, em 2011, 7,6 milhões de euros. Esta verba foi direcionada para a execução de quatro novas igrejas e complexos paroquiais, entre outras intervenções.

30 de Junho, 2013 Carlos Esperança

O recém falecido bispo e a AAP

Exmo. Senhor

Director do Diário de Coimbra

[email protected]

Senhor Director,

Com os melhores cumprimentos, em nome da Associação Ateísta Portuguesa, de acordo com os princípios do pluralismo que são apanágio do Diário de Coimbra, peço a V. Ex.ª que se digne mandar publicar a resposta ao artigo do Sr. bispo João Alves.

a)

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Resposta da Associação Ateísta Portuguesa (AAP) ao Bispo Emérito de Coimbra, João Alves

Na sequência do artigo publicado no Diário de Coimbra, no último Domingo, pelo Bispo Emérito, João Alves, sob o título «Elementos para o diálogo entre cristãos e ateus» vem a Associação Ateísta Portuguesa (AAP), pelas referências de que foi alvo, esclarecer o seguinte:

1 – A AAP foi criada ao abrigo do direito de associação, direito que o Sr. Bispo reconhece, «desde que os seus objectivos e as suas actuações respeitem o bem comum e os direitos legitimamente estabelecidos de cada cidadão e, também, os direitos da verdade»;

2 – Partilhamos com o Sr. Bispo o apreço pelo «bem comum e a verdade» mas discordamos da sua hipótese acerca do que é a verdade. Não vemos o ateísmo como um problema, não consideramos o Homem como artifício dos deuses e não é pela «exposição defeituosa da doutrina» que somos ateus;

3 – A AAP concorda com o Sr. Bispo quando afirma «ultrapassada a agressividade sectária e as actuações meramente ideológicas e preconceituosas carecidas de lucidez». Nesse sentido sugerimos que o diálogo não parta do princípio que o ateísmo é um problema nem que a religião do Sr. Bispo é a correcta. Propomos dialogar em campo neutro, admitindo que todos podemos errar em matérias de facto, aceitando o direito de cada um aos seus juízos de valor e avaliando cada posição à luz dos seus méritos, pelo que sabemos aqui e agora e não pelo que especulamos acerca do Além;

4 – O Sr. Bispo, cita a Gaudium et Spes que «…o ateísmo deve ser contado entre os fenómenos mais graves do nosso tempo…», afirma que o homem foi criado por Deus e informa que, na «Sexta-Feira Santa, [a Igreja católica] reza …em todo o mundo, pelos não crentes». Os ateus julgam mais provável que os homens tenham criado os deuses, pela diversidade evidente em ambos, e que nem o ateísmo é um problema nem a oração o método adequado para os resolver. Como um diálogo deve assentar no que une as duas partes em vez de partir daquilo que as separa, sugerimos como alicerces o direito à crença e o dever de justificar afirmações de facto com evidências objectivas. Se não considerando a crença ou a sua falta como um mal a priori e se não basearmos argumentos em premissas especulativas acerca de quem criou o quê podemos ter um diálogo genuíno que esclareça tanto quem intervenha como quem assista.