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Dia: 4 de Maio, 2013

4 de Maio, 2013 Carlos Esperança

A bênção das pastas

Bencao das pastas

Por

João Pedro Moura

 

1- “Bênção” é o acto litúrgico católico, em que um clérigo, armado com o hissope, atira uns pingos quase invisíveis de “água benta”, recolhidos na caldeirinha, suporte este contendo tal “água consagrada”. Esta água é atirada para objetos e/ou pessoas, a fim de os “proteger”, sob a impetração dum favor divino.

É um acto com que se “consagra” (palavra religiosa) qualquer coisa ou pessoa à “protecção divina”.

Anualmente, integrada na festa da Queima das Fitas, em diversas universidades portuguesas, realiza-se uma missa, durante a qual o bispo convidado “abençoa” os estudantes finalistas que, de pastas levantadas, em cerimónia pública, esperam a misteriosa “bênção”…

As próximas bênçãos das pastas serão no Porto e em Coimbra, nos próximos dias 5 e 26 de Maio, respetivamente. Esperam-se grandes multidões de estudantes e respetivas famílias, que acham que vão fazer uma grande coisa…

2- Isto é, através desse acto religioso, “bênção das pastas”, pretende-se a boa vida e a boa sorte dessa massa estudantil, que finda os seus cursos, pois que se destina, fundamentalmente, aos finalistas dos cursos superiores, que estudam “ciências”…

3- Dito doutra maneira, essa gente entende que, com a bênção dumas negregosas pastas, que os seus proprietários levantam no ar, oportuna e simultaneamente, e com o correspondente gestual, executado pelo conspícuo pontífice da fina-flor da clericalha tartufa, de serviço aos fitados da Queima, se poderá obter a benesse desejada: um emprego, uma boa vida, ou, pelo menos, uma vida razoável, que a corte celestial daria de sua graça…

É esse o objectivo dos levantadores de pastas, submissos à bênção: um emprego, uma boa vida…

4- Mas, analisemos bem o acto da bênção, mais as grotescas atitudes dessa desvairada fauna universitária, que estuda “ciências”…

Essa bênção costuma realizar-se, solenemente, com a figura imperante dum pontífice, devidamente mitrado e enroupado por alva talar e estola alvar, cobertas por manto finamente debruado de amarelo áureo…

5- No momento capital, o bispo pega no hissope, molha-o na caldeirinha e asperge água “benta” em direcção à massa tolaz de estudantes (que estudam “ciências”…), vestidos de capa e batina, soturnas fardetas negras, de reminiscências medievais, com que tais discentes se procuram demarcar do resto da população, em pose de casta à parte…

Aí é que está o momento fantástico:

É que a água é “benzida”, isto é, oficialmente impregnada de propriedades miraculosas, mas a distância a que normalmente o bispo está da primeira fila e o modo como atira a água com o hissope, dificilmente permite que tal água bem-aventurada chegue lá, quanto mais às outras filas ou às outras pessoas!…

6- Reparai bem nisto: a essência duma cerimónia de bênção é a passagem da miraculosa água, do domínio do bispo para o domínio do corpo estudantil, suponho que, de preferência, para a própria pele do estudante, a fim de que o influxo hídrico cause o máximo de efeitos (já viram o que era a água cair apenas na roupa?!…)

7- Agora, que raio de bênção é aquela feita em estádios de futebol, santuários e praças citadinas, em que o insigne corifeu da tartufaria clerical mal consegue fazer chegar uns pingos aos maníacos de tal água???!!!

Que efeito é que tal ato, extremamente maluco, pode produzir na vida das pessoas que se prestam a tal liturgia???!!!

8- Enfim, eu tenho estudado o assunto e talvez a bênção seja uma coisa mais “científica” do que parece…

Até porque, se os estudantes não recebessem nada, desapareceriam e acabaria a bênção das pastas, por falta de procura. É a lei do mercado…

9- Então, depois de muito pensar, eu desenvolvi um postulado:

É evidente que o bispo, quando asperge a água benta em direcção ao povo discente, através do hissope, mal consegue fazer chegar tal água milagrosa ao pessoal da frente, mas penso que o bispo, sendo um representante terráqueo da divindade, está dotado de propriedades de transmissão extraordinárias, pelas quais o hissope funcionaria como antena e da qual resultaria uma emissão estimulada de água, com amplificação da “luz divina”, através de gotículas vaporosas, que chegariam em massa aos assistentes…

É possível que estejamos em presença duma desconhecida propriedade electromagnética da matéria, patente no trio bispo-hissope-água benta.

10- Já reservando o nome do fenómeno, para eventual registo de patente internacional, designo-o por “L.A.S.E.W.”, “Light Amplification by Stimulated Emission of Water”, Amplificação de Luz por Emissão Estimulada de Água.

Há um fenómeno semelhante com outro tipo de luz…

Nesta minha teoria, o bispo (sistema de transmissão) através do hissope (antena) procederia a uma emissão estimulada de água, mas que só se veriam uns pingos no espectro visível, com vaporização intensa, formando-se milhões de gotículas, que transportariam e amplificariam a “luz divina”, ou o que se queira chamar, atingindo os espectadores com influxos hidractivos electromagnéticos (“bênção”), que lhes dariam as graças desejadas…

11- Consta-me que há cada vez mais desempregados com licenciaturas, mas isso pode ser por falta de levantamento correcto das pastas, ou por falta de influxos hidractivos suficientes para chegarem a toda a gente, já que as multidões de estudantes “abençoados”, que estudam “ciências”, são imensas…

12- Enfim, os feixes de raios “LASEW” ainda são um postulado e têm que ser mais bem estudados…

Que é que os caros leitores, ateus e crentes, acham desta minha teoria dos raios “LASEW”?

4 de Maio, 2013 Carlos Esperança

Patologias da religião vistas por um padre

Por

Padre Anselmo Borges, DN

1-Não tem faltado aqui, nestas crónicas, a denúncia das patologias da religião. Como ser insensível ao sofrimento das vítimas da pedofilia do clero? Vítimas de escrúpulos, vítimas da humilhação intelectual, vítimas da intolerância religiosa, de um deus mesquinho e escravizador… O historiador católico Jean Delumeau escreveu: “As minhas investigações convenceram-me de que a imagem do Deus castigador e vingativo foi um factor decisivo para uma descristianização cujas raízes são antigas e poderosas”.

Parece que, enquanto pôde, o clero controlou a vida sexual dos fiéis, a ponto de outro historiador, Guy Bechtel, afirmar que a fractura entre a Igreja católica e o mundo moderno se deu na teoria do sexo e do amor, com uma confissão inquisitorial centrada na actividade sexual.

Será preciso lembrar os homens e mulheres que foram assados nas fogueiras da Inquisição e não só, porque tinham ideias novas? E houve o medo-pânico da mulher, que se chegou a acusar de manter relações sexuais com o diabo. E os livros considerados heréticos também foram queimados. E houve as cruzadas, as guerras de religião, a missionação forçada. Pio VI condenou essa “detestável filosofia dos Direitos do Homem”. Pio IX condenou expressamente a evolução como uma aberração. No século XX, o teólogo E. Drewermann escreveu: “Há 500 anos, a Igreja recusou a Reforma; há 200, o Iluminismo; há 100, as ciências naturais; há 50, a psicanálise. Como viver com tantas rejeições?”

(…)