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Francisco I e Xi Jinping

Texto de Onofre Varela, previamente publicado no jornal Alto Minho.

O Papa Francisco I foi ao Canadá “pedir perdão pelo mal cometido pela Igreja Católica contra povos indígenas”. Esta prática não é inédita na igreja do Vaticano. Já João Paulo II, por altura do Jubileu da Igreja, no ano 2000 [o que acontece no fim de cada quarto de século], pediu perdão “por todos os males causados pela Inquisição Católica à Humanidade”.

Se é verdade que “um pedido de perdão não indemniza prejuízos”, também não é menos verdadeiro que ter a consciência de os ter provocado… já é ter alguma coisa de positivo para partilhar com o ofendido. O que é preciso é que a instituição que se penitencia pelos males provocados na sociedade onde se instala, não venha a repeti-los… o que não é inteiramente líquido.

No Canadá, perante milhares de indígenas, o Papa reconheceu a responsabilidade da Igreja Católica num sistema em que “as crianças sofreram abusos físicos, verbais, psicológicos e espirituais”.

Os pedidos de perdão foram feitos, particularmente, pelos crimes cometidos nos internatos para crianças geridos pela Igreja Católica, e lamentou que alguns dos seus membros tenham “cooperado” em políticas de “destruição cultural”.

“Estou triste. Peço perdão”, disse Francisco I a milhares de indígenas em Maskwacis, no Oeste do Canadá. “Um erro devastador”, foi como o Papa rotulou os abusos cometidos pela Igreja contra os povos indígenas do Canadá. Concretamente, o Papa pediu perdão por, entre os finais do século XIX e a década de 1990 (um período de cem anos) terem sido recrutados, à força, cerca de 150.000 crianças indígenas que foram distribuídas por mais de 130 instituições católicas numa operação de lavagem cerebral, isolando-as das suas famílias, da sua língua e da sua cultura, atropelando a dignidade a que tinham direito e destruindo-lhes a identidade. Para além disso, pelo menos 6000 crianças teriam morrido vitimadas por maus tratos infligidos nessas instituições religiosas.

Em 2021 foram descobertas “mais de 1300 sepulturas anónimas perto dessas escolas católicas, o que provocou uma onda de choque no país, levando, lentamente, a abrir os olhos para este passado descrito como genocídio cultural por uma comissão nacional de inquérito”.

Francisco admite que “as políticas de assimilação acabaram por marginalizar sistematicamente os povos indígenas. As suas línguas e as suas culturas foram denegridas e suprimidas”.

Não é só a Igreja que tem de pedir perdão por casos desta índole. Também é necessário que Xi Jinping, presidente da China, o faça aos povos que persegue (e deixe de perseguir), não só no Tibet, em Macau e Hong Kong, mas também pelo genocídio do povo Uigure submetido a “doutrinação” e a maus tratos no sentido de lhes destruir a identidade étnica “reeducando-os”… o que é crime!

Francisco I tem consciência histórica e humanista… Xi Jinping… não!…

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico) 

OV