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“República laica” muito sui generis

A Igreja dominou Portugal durante toda a Monarquia desde a sua Fundação – com o primeiro rei em 1143 – até depois da implantação da República, quando, a 20 de Abril de 1911, entrou em vigor a Lei de Separação da Igreja do Estado, completando 768 anos de regime Católico (quase oito séculos).

Sete anos depois (1918) Sidónio Pais reviu a Lei da Separação dos poderes políticos e religiosos, restabelecendo relações diplomáticas com a Santa Sé, o que se conservou até à Constituição da República Portuguesa de 1976 (saída da Revolução de 25 de Abril de 1974) que reimplantou a Lei da Separação da Igreja do Estado, no seu Artigo 41 § 3 (Constituição da República, 1ª Edição, 1976) – mas mantendo as relações diplomáticas com a Santa Sé – acrescentando mais 58 anos ao domínio da Igreja em Portugal, totalizando 826 anos de “Reinado Católico Lusitano”.

Hoje vivemos num regime político republicano e laico, que nos foi oferecido há 47 anos pela Constituição da República. Não é muito tempo. Meio século foi ontem… ainda cheira a pintado de fresco… ao contrário, oito séculos foi há imenso tempo. Nas tradições religiosas é natural que o espírito de fé dos Portugueses se mantenha, hoje, como sempre foi… embora não tão fundamentalista como o teríamos durante toda a Idade Média e a Renascença… mas, com toda a certeza, muito mais consciente.

O que me parece curioso em toda esta História é a nomenclatura de estabelecimentos de saúde referir, no nosso tempo, tantos santos e tantas santinhas, neste país governado por uma República Laica!… Até parece que, em vez da “Previdência Social”, nós temos a saúde entregue à “Santa Providência”! Ora vejam lá esta lista dos nomes que temos no Parque Hospitalar do Serviço Nacional de Saúde:

Santa Maria (Barcelos e Lisboa); São Marcos (Braga); São José (Fafe e Lisboa); Nª Sª da Oliveira (Guimarães); São João de Deus (Famalicão); São Gonçalo (Amarante); Santo António (Porto, e o dos Capuchos, em Lisboa); Srª da Conceição (Valongo); São João (Porto); Santa Luzia (Viana do Castelo e Elvas); Nª Sª da Ajuda (Espinho); São Sebastião (Vila da Feira, ou Santa Maria da Feira, como agora se diz); Arcebispo João Crisóstomo (Cantanhede); Santo André (Leiria); São Teotónio (Viseu); Santa Marta (Lisboa); S. Francisco Xavier (Lisboa); Santa Cruz (Carnaxide); Nossa Senhora da Graça (Tomar); Nª Sª do Rosário (Barreiro); São Bernardo (Setúbal); São Paulo (Serpa); Espírito Santo (Évora); Santo Espírito de Angra do Heroísmo e Hospital do Divino Espírito Santo (Arquipélago dos Açores).

Nas escolas observa-se o mesmo fenómeno nos nomes escolhidos para os vários Estabelecimentos de Ensino. No Porto encontrei o “Externato das Escravas do Sagrado Coração de Jesus”… só o nome arrepia!… Qual é o pai que confia a sua filha a uma instituição com tal designação?!…

Somos uns “republicanos laicos” muito civilizados, sensíveis e condescendentes (sinais de inteligência superior), e também personificamos um raro exemplo de uma sã convivência… sublinhando a inteligência do parêntesis!…

Haverá quem diga que não?!…

(O autor escreve sem obedecer ao último Acordo Ortográfico)

OV