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Dia: 5 de Agosto, 2020

5 de Agosto, 2020 João Monteiro

Igreja quis processo bilionário contra a Netflix

No final do ano passado, a produtora Porta dos Fundos apresentou, na Netflix, o seu especial de Natal intitulado “A primeira tentação de Cristo”. Esse episódio humorístico apresentava um Jesus Cristo que regressava a casa após ter estado 40 dias no deserto, onde fora tentado de várias maneiras por Lúcifer. Para o receber, a sua família preparara-lhe uma festa surpresa e decidira contar a verdade sobre a sua origem. O que viria a gerar grande polémica, não só no Brasil mas também a nível internacional foi o facto de Jesus ser representado como gay, a sua mãe Maria como uma mulher promíscua e os apóstolos como um grupo de alcoólicos.

Assista ao trailer aqui:

A polémica:

Este foi o episódio mais polémico da equipa brasileira da Porta dos Fundos, tendo originado uma grande mobilização da sociedade civil: uma petição online recolhera 280 mil assinaturas para que a Netflix removesse o programa da sua plataforma; o programa mereceu críticas de políticos brasileiros; após queixa apresentada por um grupo cristão por ofender a liberdade religiosa, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro ordenou a retirada do programa do ar no Brasil por “cautela, para acalmar os ânimos”; contudo, a anterior decisão viria a ser revista, posteriormente, pelo Supremo Tribunal Federal alegando o direito à liberdade de expressão: “…dizendo que não se deve descuidar do respeito à fé cristã, mas não pode se supor que uma sátira humorística tenha o poder de abalar a fé que existe há 2 mil anos.”; a sede da Porta dos Fundos foi atacada com cocktails molotov e incendiada, levando a equipa a procurar um novo edifício; entre outros.   

Um processo caricato:

Mas de todas as iniciativas, uma foi notícia pelo caricato da situação.

Anselmo Ferreira de Melo da Costa, simultaneamente presidente da Igreja Templo Planeta do Senhor e advogado do processo, alegou sentir-se desrespeitado na sua fé cristã por ver representado um Jesus Cristo homossexual pelo que pediu uma indemnização de 1 bilião de reais à Netflix e à produtora Porta dos Fundos. Além disso, pediu que se retirasse o programa do ar.

Contudo o processo terminou apenas ao fim de seis meses e sem que a Netflix ou a Porta dos Fundos tivessem sido notificadas da sua existência. Acontece que o Templo desistiu porque a juíza não lhe deu o direito da “Justiça gratuita”, como o requerente pretendia para não gastar dinheiro. Além disso, como pedia o bilião de reais, as custas foram elevadas, no valor de 82mil reais, valor que pode duplicar caso queira recorrer. Se a Netflix e a Porta dos Fundos tivessem sido notificadas, o Templo ainda teria de pagar os honorários dos advogados dessas empresas, aumentando ainda mais as custas na justiça.

A isto há que acrescentar vários erros processuais, como a troca dos títulos dos episódios em causa, a legitimidade da igreja receber a indeminização, a justificação do elevado valor pedido e a recusa em entregar os balancetes contabilísticos da Igreja – este último elemento esteve na base da recusa da aceitação da “Justiça gratuita”.

Quanto à retirada do programa do ar, o Supremo Tribunal Federal já recusara num outro processo, alegando o direito à liberdade de expressão (ver acima).

Não deixa de ser irónico que o pastor que deveria instruir o seu rebanho a perseguir os valores espirituais e a abandonar as riquezas terrenas, tenha sido o mesmo a deixar-se levar pela avareza de perseguir valores bilionários. Mas como diz o conhecimento popular “Deus escreve direito por linhas tortas”, e este pastor em vez de arrecadar fortuna teve de pagar as custas.

Fonte: Igreja queria lucrar 1 Bilião de reais.  

5 de Agosto, 2020 Carlos Esperança

O Antigo Testamento e os 3 monoteísmos

O AT é um livro escrito na Idade do Bronze, certamente de natureza hebraica, com um deus violento, misógino, vingativo, xenófobo e cruel, essencialmente tribal e patriarcal.
Para um ateu é um truísmo aceitar que o deus é uma criação humana, e não o contrário, mas não podemos nem devemos ignorar os sentimentos e convicções de quem se tornou crente desde o nascimento e interiorizou a crença sem a submeter ao escrutínio da razão.

O primeiro monoteísmo é o judaísmo, convencido de que Deus era o protetor das doze tribos e que na Conservatória do Registo Predial celeste lhe outorgou a escritura que lhe doou a Palestina. Dessa crença nasceu a tragédia do sionismo que envenena as relações entre judeus e muçulmanos e são um fator de permanente ódio e crispação.

A cisão de Paulo de Tarso com o judaísmo deu origem ao cristianismo que a urgência de Constantino em aglutinar o Império Romano, passou de seita a religião oficial.

Entre 610 e 632, Maomé, pastor iletrado, enriquecido com o património de uma viúva rica, teve tempo para decorar o Corão, ditado pelo anjo Gabriel, o mesmo que tinha dito à Virgem Maria que estava grávida, coisa de que dificilmente se apercebe uma mulher. Demorou 20 anos a decorar a cópia grosseira do cristianismo, entre Medina e Meca, e, para desgraça da humanidade, Maomé foi o último profeta, Deus falou pela última vez e a guerra passou a ser o argumento de quem não se resigna a ser detentor da verdade sem a querer impor aos outros.

O cristianismo e o islamismo têm em comum o proselitismo, tara que é responsável por imensos crimes do primeiro, no passado, e pela continuação, no presente, pelo último. A evangelização, com a fanatização de crianças de tenra idade, é a arma de que não abdica o fascismo islâmico e que o cristianismo só depôs após a paz de Vestefália, graças à repressão política sobre o seu clero.

O Antigo Testamento, visto como obra literária e documento sobre os usos e costumes da Idade do Bronze, é um documento interessante. Considerado como sendo a palavra de Deus, deixa de ser o manual de maus costumes, referido por Saramago, para ser, mais exatamente, um conjunto de fascículos terroristas onde a decadência da civilização árabe e o ódio pregado nas mesquitas e madraças encontram o seu suporte.

Não se julgue, contudo, que a Igreja católica abdicou da pouco recomendável literatura para se basear apenas no Novo Testamento, um avanço ético notável, onde caiu a nódoa do antissemitismo, compreensível em trânsfugas do judaísmo.

O Pentateuco, em especial o Deuteronómio e o Levítico, descrevem o mundo medonho da época a que se referem. Vejamos alguns exemplos da moral bíblica: Qual é o castigo para quem invoque o nome de Deus em vão?.- a morte (Levítico 24:16). E por trabalhar ao 7.º dia? – a morte, claro (Êxodo 31:15). E o castigo para o adultério? – Naturalmente, a morte (Levítico 20:10). E para a homossexualidade? (Levítico 18:22). E por comer moluscos? (Levítico 11:10). Mas é permitido vender uma filha como escrava: (Êxodo 21:7) e possuir escravos, tanto homens como mulheres, desde que comprados em nações vizinhas (Levíticos 25:44).


Os exegetas cristãos, contrariamente aos mullahs, esforçam-se por dizer que o que está escrito não quer dizer o que diz, enquanto o Islão prega a maldade que o Corão bebeu na tradição judaico-cristã. No entanto, o catecismo da Igreja católica, elaborado pelo Prefeito da Sagrada Congregação da Fé (ex-Santo Ofício) – o então cardeal Ratzinger –, afirma o que deixo à consideração dos meus leitores:

Não pode, pois, dizer-se que o Antigo Testamento é uma obra meramente literária, como dizem, envergonhados, alguns crentes. Não é o que pensa o Vaticano.


Eis dois parágrafos do «Catecismo da Igreja Católica» que deixo à consideração dos leitores:

«§121 – O Antigo Testamento é uma parte indispensável das Sagradas Escrituras. Os seus livros são divinamente inspirados e conservam um valor permanente, pois a Antiga Aliança nunca foi revogada».

«§123 – Os cristãos veneram o Antigo Testamento como a verdadeira Palavra de Deus. A Igreja sempre rechaçou vigorosamente a ideia de rejeitar o Antigo Testamento sob o pretexto de que o Novo Testamento o teria feito caducar».