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Dia: 16 de Julho, 2020

16 de Julho, 2020 João Monteiro

Bispo de Beja critica os Alentejanos

Noticia o jornal Público que, na homilia do último domingo, o Bispo de Beja, D. João Marcos, terá criticado de forma dura os seus seguidores. Referindo-se aos Alentejanos do Baixo Alentejo e Alentejo Litoral, afirmou que, e cito:

“a grande maioria não escuta a palavra de Deus”, “são católicos da religião, mas não da fé. Vivem como pagãos”, representando uma “maioria espiritual surda”, “condenada a uma vida superficial, centrada em si mesma e vivendo para si própria”, concluindo que: “penso que muitos de vós que vindes à missa na prática diária viveis como não cristãos”.  

Mais à frente continuou, e volto a citar: “muitos são católicos de religião, mas não de fé” (…) “Há uma divisão profunda entre as orações que dizeis e as obras que praticais. No fundo, sois idólatras”.

Estas afirmações foram feitas num contexto em que o Bispo criticava a comunidade por se encontrar num terreno de espinhos, sendo necessário libertar os cristão da “corrupção e sede de lucro que os escraviza”, de modo a transformar esse terreno em terra fértil.

Se o Bispo considera que o comportamento da comunidade católica merece palavras condenatórias, também eu considero que o comportamento do Bispo não foi o melhor ao criticar toda uma comunidade por igual. Esta divergência de opiniões resulta de um entendimento do funcionamento da vida em sociedade.

Para o Bispo, parece que a comunidade é um rebanho de características uniformes que deve seguir o seu pastor para não se desviar da terra fértil. Esta é uma visão paternalista, que reduz o povo (neste caso referindo-se aos Alentejanos) a um conjunto de pessoas sem vontade e iniciativa.

Pelo contrário, na minha visão, cada uma das pessoas que assistia à homilia é um ser individualizado, com as suas experiências, reflexões, vontades e ambições que deverá, autonomamente ou em conjunto, tentar compreender o que é melhor para si e para a comunidade, e seguir autonomamente o seu percurso sem o recurso a pastores que as conduzam.

Mesmo que o Bispo tivesse eventualmente razão nalgumas críticas que fez, nunca poderia dirigi-las a toda uma comunidade por igual, pois isso seria uma generalização, mas tão somente a quem cometeu os alegados “erros”. Generalizando, acabou por fazer acusações injustas, pagando o justo pelo pecador. Mas também isso é tática da religião cristã: fazer as pessoas sentirem-se culpadas para buscarem o perdão que só a Igreja pode dar – porque, segundo a doutrina, “fora da Igreja não há salvação”. Tudo isto é um jogo psicológico, pois quem é que não gosta de ser absolvido após uma repreensão?

Além disso, o Bispo critica a procura de lucro que escraviza, o que me leva a levantar três questões:

a) não deverão ser as pessoas a decidir o seu próprio percurso e a escolher se devem ou não procurar um lucro que lhes permita ter uma vida melhor e desafogada, de modo a conseguirem independência da caridade cristã?

b) que tem o Bispo a dizer do lucro que a sua Igreja Católica amealha ao não pagar o IMI dos edifícios e outras isenções, ou dos milhões arrecadados pelo Vaticano?

c) não estará o Bispo, com as suas palavras, a querer manter um poder financeiro e de orientação da comunidade, procurando manter esta sob seu controlo?

Ao ler esta entrevista não pude deixar de me sentir incomodado e revoltado com as acusações que o Bispo fez a toda a comunidade alentejana. Fica o meu desabafo.