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Dia: 14 de Abril, 2020

14 de Abril, 2020 Carlos Esperança

Associação Ateísta Portuguesa (AAP)

Exmo. Senhor Dr. Eduardo Cabrita – Ministro da Administração Interna – C.c.: PR, AR, PM, Grupos Parlamentares

Excelência,

Associação Ateísta Portuguesa (AAP) tomou conhecimento da insólita atitude do Sr. Presidente da Câmara de Ovar, Salvador Malheiro da Silva, ao convidar o bispo do Porto, Sr. Manuel Linda, a deslocar-se à sede da autarquia, para benzer o hospital de campanha que irá funcionar para o tratamento da COVID- 19.

A AAP ficou perplexa com o convite dirigido a um dignitário católico para a cerimónia oficial, por quem deve respeitar a laicidade a que a CRP obriga e, sobretudo, por violar o estado de emergência, decretado pelo PR, a que todos somos obrigados.

A aceitação pelo Sr. bispo Manuel Linda e a deslocação do Porto a Ovar, na última quarta-feira, assumiu particular gravidade, pela violação do estado de emergência e do cerco sanitário, medida excecional imposta ao concelho para defesa da saúde pública.

A gravidade do ato, que o comunicado do Câmara Municipal, em anexo, parece ignorar, é, na opinião da AAP, um caso de polícia e de afronta ao Estado de Direito democrático, ferindo a autoridade da presidência da República, Governo e Assembleia da República, com perigo para saúde pública e constituindo graves exemplos de falta de civismo.

Em face do exposto, dado que a deslocação episcopal não foi impedida pela polícia, vem a AAP solicitar a V. Ex.ª que se digne informá-la das medidas que pretende tomar para que a autoridade do Estado seja respeitada e a insurreição de autarquias que se julguem à margem da legalidade democrática não volte a repetir-se.

Por respeito aos crentes católicos e à mágoa legítima por não poderem comemorar uma data litúrgica de grande valor simbólico para eles, a AAP deixou passar essa data, para agora manifestar agora a sua perplexidade e veemente indignação.

Aguardando uma resposta de V. Ex.ª, reiteramos a nossa preocupação com o desafio ao Estado de Direito democrático, e apresentamos-lhe as nossas saudações republicanas, laicas e democráticas.

Anexos: Carta devidamente formatada e imagem de uma das múltiplas notícias que circularam a relatar o sucedido.

a) Presidente da AAP – Associação Ateísta Portuguesa
http://aateistaportuguesa.org

Apostila: Esta carta foi enviada ontem, mas, por inoperacionalidade do blogue, só hoje é publicada.

14 de Abril, 2020 Carlos Esperança

Sobre Anti-clericalismo (1)

Por

ONOFRE VARELA

Antes de tratar do assunto anunciado em título, quero aqui deixar o meu elogio à atitude de dois sacerdotes católicos: um, da Guarda, e outro de uma localidade Espanhola. Ambos demonstraram possuir um sentido de humor elevado, ao pedirem aos fieis das suas igrejas para que, neste tempo assolado por um vírus mortal que desaconselha concentrações de pessoas, lhes fornecessem cópias a cor dos seus retratos, em formato A3, para, com eles, decorarem os encostos dos bancos dos templos, sentindo, assim, que não celebravam missa num templo vazio. Considero este acto uma ideia genial pelo humor que encerra. E o humor é característica de inteligências superiores, não estando ao alcance de qualquer um. Os meus parabéns à Igreja Católica por ter sacerdotes com este nível.

Tratando do tema desta crónica direi que, hoje, em Portugal, não há Anti-clericalismo, pela simples razão de não haver Clericalismo! O Anti-clericalismo só existe na razão directa do Clericalismo que quer combater. É como um Anti-vírus que só existe porque existe o Vírus… não existindo este, não há razão para existir aquele!… Ora, não havendo Clericalismo (ou há?!…) também não existe a arma que o combate!

O Anti-clericalismo em Portugal existiu com uma força que podemos apelidar de feroz, num tempo em que havia um Clericalismo também feroz. Penso que o último Anti-clericalista Português foi Tomás da Fonseca (1877-1968), detentor de uma forte personalidade invulgar que o enviou para a cadeia diversas vezes, por razões políticas.

Na Primeira República foi chefe de gabinete de António Luís Gomes, que era ministro do Fomento do Governo Provisório, e ocupou o mesmo cargo ao serviço do primeiro ministro Teófilo Braga (que mais tarde viria a ser, embora por pouco tempo, presidente da República). Foi eleito deputado à Assembleia Constituinte em 1911 pelo círculo de Santa Comba Dão, e em 1916 foi eleito senador por Viseu. Atento aos aspectos mais negativos da Igreja, numa intervenção que fez em 1912, denunciou casos de padres pedófilos, problema que, como se vê, não é só de hoje.

Os regimes ditatoriais mereciam-lhe o maior repúdio, e por isso foi preso em 1918 por se opor à ditadura de Sidónio Pais. Volta à cadeia dez anos depois, em Coimbra, e torna a ser preso em 1947 por ter protestado contra a existência do Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, para onde Salazar enviava presos políticos.

As razões do Anti-clericalismo de Tomás da Fonseca estão registadas na História, e delas falarei no próximo artigo.

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

OV