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Dia: 6 de Dezembro, 2019

6 de Dezembro, 2019 Carlos Esperança

A religião, a doença e o sofrimento

O prazer é o alimento da felicidade e do bem-estar. O hedonismo preserva a espécie e dá sentido à vida. A doença é o revés que devasta, e a dor a infortúnio que transforma a vida em tragédia e a morte na única forma de libertação.

A morte é aliciante para quem se alimenta dela, industriais funerários, gatos-pingados e funcionários de Deus. Estes últimos encontram no medo o húmus para a evangelização, o meio para a sua eficácia, e a estratégia para a manutenção do emprego.

O medo da morte criou os deuses, à imagem e semelhança dos homens, mas foram os chefes tribais da Idade do Bronze que criaram o deus misógino, xenófobo e vingativo que deu origem aos monoteísmos.

Confundir o direito à vida com a obrigação de a prolongar quando se torna insuportável, é a maldade de uns e o masoquismo de outros, a perversão pia que o sadismo sustenta e a crença que condena a vida com as dores inventadas para depois da morte.

Quando a crença se sobrepõe à razão, a insensibilidade resiste ao sofrimento, sobretudo dos outros, e cria o pensamento totalitário, que leva ao desprezo dos direitos individuais e à exaltação do sofrimento, como se o deus violento, que mora na imaginação dos seus funcionários, se rebolasse de gozo perante as dores humanas.

É a ausência de discernimento, que o embotamento da fé produz, que ateia fogueiras ou leva imbecis a atar um cinto com explosivos à barriga, a demência que criou cruzados e fabrica talibãs, a crença que leva um clérigo a trocar a compaixão por um versículo e a atormentar um moribundo para o levar a agradecer ao carrasco que inventaram.