Loading

Dia: 20 de Janeiro, 2018

20 de Janeiro, 2018 Carlos Esperança

Toddy e Deus

Por

Onofre Varela

(in Gazeta Ateísta)

Frases afirmativas da existência de Deus são muitas vezes proferidas a propósito e a despropósito de tudo e de nada. “Deus é pai”, “Deus é amor” e “Deus é criador”, são três dessas frases do marketing religioso.

São afirmações que me fazem lembrar um anúncio radiofónico que esteve em voga quando eu era moço, propagando as virtudes de um pó achocolatado para misturar no leite. Produto americano de grande consumo na época, a sua mensagem afirmava categoricamente: “Toddy contém, porque contém mesmo!”

Ora… dizer isto, ou estar calado é, em termos informativos, rigorosamente a mesma coisa. A frase não acrescentava nem retirava nada ao produto que publicitava. Dizia-se que continha, mas não se definia, nem explicava, o respectivo conteúdo… porém, reiterava-se, à laia de explicação, que “contém mesmo” para sublinhar uma verdade: a de conter! Conter o quê?!… Ninguém sabia! “Contém porque contém mesmo”, é uma crença e não uma explicação. Não explicando coisa alguma, a mensagem Toddy conseguia gravar na mente dos consumidores a ideia de que aquilo haveria de conter algo de positivo que se reflectiria na boa saúde de quem bebesse aquela coisa misturada no leite.

Na verdade o poder nutritivo do produto estava no leite (que o consumidor já possuía independentemente do Toddy) e não no pó. Este servia para alterar a cor e o paladar do leite e funcionava ao nível da crença. “Contém porque contém mesmo” é uma afirmação tão redentora como aquela de Deus ser pai, amor e criador. Em religião as afirmações são feitas na base do sim porque sim, do não porque não e do é porque é (contém porque contém) e funcionam com a mesma eficácia do marketing Toddy. O que colhe resultados é a crença nas virtudes do pó (e na existência de Deus), e não o pó propriamente dito (nem Deus) que ninguém sabe de onde provém (e que não existe fora da cabeça do crente). O desconhecimento da origem do pó é, no fundo, o enigma, o dogma que alimenta a crença fazendo-a perdurar no tempo, e só encanta enquanto não se dissolve o mistério, mostrando que o pó nutritivo não é mais do que cacau… e então perde metade do interesse! Tal como perde o encanto e deixa de ter significado a magia do aparecimento da pomba, quando se conhece o truque do ilusionista.

É assim que Deus-Toddy vende a ideia do seu pó redentor e dulcificado a ser consumido em doses místicas de missas dissolvidas em orações…

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)